Era só 1 matéria, depois farrinha em Brasília. Mas….

A pauta em Brasília era apenas uma matéria, mas o trabalho foi aumentando Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Em maio de 2002, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) decidiu antecipar o debate eleitoral e marcou uma sabatina com os quatro pré-candidatos mais bem posicionado à Presidência no auditório da entidade, em Brasília. A proposta era conhecer as ideias de Luiz Inácio Lula da Silva, José Serra, Ciro Gomes e Anthony Garotinho.

Convidado para cobrir o evento, o Jornal do Commercio enviou o seu editor-assistente de política, no caso eu. A missão era simples: acompanhar as impressões dos pernambucanos presentes ao evento sobre os pré-candidatos. Materinha curta, de 20 linhas. E estava liberado para curtir Brasília, cidade que morei em meados dos anos de 1970.

Fazia mais de 25 anos que não ia à Capital Federal e aproveitei para marcar com os amigos de lá para tomar uma, após escrever a matéria. Brasília tem muitos jornalistas pernambucos. Hoje em dia desconfio que tem mais jornalistas do Estado lá do que aqui. Mas tava tudo combinado.

Às 5h30 peguei o voo. Chegando lá, deixei a bagagem no hotel e fui direto para o prédio da CNI. Era por volta das 9h. De político pernambucano, encontrei primeiramente o então o saudoso senador Carlos Wilson. Sempre muito gentil, Cali, como era chamado, estava incomodado naquele dia. Estava envolvido numa disputa interna no PPS com o também senador Roberto Freire.

Quando me viu, veio cumprimentar e falou sobre essa questão com Freire. A conversa foi interrompida pela repórter Gioconda Brasil, que queria ouvir o senador sobre o debate. De toda a forma, já tinha anotado as informações. Encontrei com Roberto Freire e ouvi o seu lado na disputa. Então, já tinha mais uma matéria para fazer.

Era só escrever as matérias

Passava das 13h quando a sabatina acabou. Almocei, descansei um pouco, tomei um banho, coloquei uma camiseta e bermuda e desci para o hall do Kubitschek Plaza Hotel. O computador ficava com vista para a rua. Por volta das 17h, carros de veículos de comunicação começaram a chegar. Eram muitos. Rede Globo, Band, Folha de S. Paulo… Um a um foram chegando.

Dali a pouco, entra Gerson Camarotti, que, creio, à época estava no Estadão. Eu e Gerson fomos contemporâneos de frequência de um dos melhores bares do Litoral Norte, o Porquinho, que funcionava nos anos de 1990 às margens do Canal de Santa Cruz, em Maria Farinha.

Pois bem, ao chegar, Gerson me viu e disparou: “Frogger (meu apelido  é Sapo), o que um jornalista faz de bermuda aqui em Brasília?”. Expliquei que já tinha acabado a apuração das matérias e só estava escrevendo, para encerrar o meu serviço. “Pois então suba e vá colocar o seu terno. O pré-candidato a vice de Garotinho tá hospedado aqui e vai renunciar ao cargo.”

Paulo Costa Leite havia renunciado ao cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça para ocupar a vice na chapa do presidenciável do PSB, Anthony Garotinho. Entre 1973 e 1984, ele havia trabalhado no temido Serviço Nacional de Informações (SNI). O PSB não aceitou a sua ligação com o regime militar.

Coloquei o terno e desci para apurar a minha terceira matéria. A essa altura, já não seria um happy hour.

Garotinho chegou. Sem experiência em Brasília, fui atropelado pelos outros repórteres. Não consegui perguntar, mas anotei as informações.

Arraes em Brasília

Quando ir escrever a matéria, Gerson se aproximou e disse. “Olha, Doutor Arraes tá em Brasília. Na sede do partido”. E lá fui eu atrás do líder socialista, que estava num hiato de mandatos, após a derrota de 1998 para o Governo do Estado. Já passava das 20h. Depois de um leve chá de cadeira, Arraes atendeu por volta das 21h. Mais uma matéria, a quarta.

Quando terminei, já era quase 23h. O bar foi substituído pela cama, porque às 6h iria voltar para o Recife. O reencontro com os amigos ficou para outra vez. Mas a aventura do retorno ao Recife, não. Na próxima semana, conta a saga: eu, Doutor Arraes, Isabela e duas doses de uísque.

Foto: Marcello Casal Jr./ABr

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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