Márcio Didier
Durante o fim de semana, dois casos apontam que a intolerância e o desequilíbrio emocional vêm numa escalada preocupante no Brasil. Na noite de sexta-feira (16), descontrolado após agredir a esposa, o major médico da reserva da PM Carlos Frederico Cabral da Silveira, assassinou a tiros o porteiro José Washington de Santana, em um apartamento em Boa Viagem. No sábado, um homem negro vítima de agressão foi detido por policiais, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O homem negro de 40 anos, o motoboy Everton da Silva, levou uma facada de Sérgio Camargo Kupstaitis, um homem branco de 72 anos.
Ao chegar ao local, um policial foi para cima do motoboy, enquanto um outro militar ficou conversando amigavelmente com o agressor. Everton foi algemado e levado para a delegacia na caçamba da viatura. O suspeito, por sua vez, seguiu no banco de trás de outro veículo. As imagens da abordagem rodaram a internet, provocando revolta e o debate sobre a questão do racismo. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pediu celeridade nas investigações.
No caso do Recife, o militar da reserva agrediu a esposa no apartamento em que moravam, no primeiro andar do Edifício Monte Pascoal, no bairro de Boa Viagem. A companheira do agressor conseguiu escapar e abrigou-se no apartamento vizinho. Procurando pela esposa, o militar foi buscar informações com o porteiro. Diante da falta de respostas, o aposentado disparou dois tiros em direção ao funcionário do prédio, que foi atingido por um deles e faleceu ali mesmo. O militar retornou ao seu apartamento e tirou a própria vida.
Esses dois episódios revelam uma sociedade cada dia mais debilitada no Brasil. A pandemia e a cultura do ódio na política fizeram muito mal à saúde mental de uma parcela grande dos brasileiros, que se sentem a cada dia mais legitimados a externar preconceitos e atitudes que estavam guardadas em algum lugar e que, infelizmente, afloram cada vez mais no País. É preciso de um olhar especial dos governos, em todos os níveis, para o cuidado com a saúde mental das pessoas, para evitar que crimes como esses dois se multipliquem na sociedade.