As histórias de cerca de 400 mulheres alvo de vigilância pelo Departamento de Ordem Política e Social de Pernambuco (Dops-PE) durante o Estado Novo serão reunidas em um e-book gratuito. Essa é a proposta do projeto de pesquisa “Mulheres e Resistências – caminhos de insubmissão nos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social de Pernambuco”, que sistematiza prontuários produzidos entre 1935 e 1946 pelo órgão responsável pelo monitoramento e repressão política no período.
O lançamento da publicação ocorre no auditório do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje), no Recife, com a realização de uma roda de diálogo aberta ao público. O encontro apresenta os principais resultados da pesquisa e discute os mecanismos institucionais de vigilância, repressão e criminalização da atuação política feminina durante o regime autoritário instaurado no país em 1937.
Acervo da Dops e recorte da pesquisa
Criada com a consolidação do Estado Novo, a Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) atuava no acompanhamento de indivíduos e organizações considerados ameaças à ordem política. Em Pernambuco, o acervo reúne milhares de prontuários policiais, dos quais a maioria se refere a homens. A pesquisa identificou cerca de 400 registros relacionados a mulheres, número que orientou o recorte temático do projeto.
Os prontuários analisados reúnem informações pessoais, relatórios de vigilância e classificações políticas atribuídas pelas autoridades da época. As mulheres eram enquadradas como comunistas, anarquistas ou sindicalistas, categorias utilizadas pelo aparato repressivo para justificar a abertura dos registros e a adoção de medidas de controle.
Produção do e-book e participantes
Desenvolvido ao longo de 2025, o projeto resultou em uma revista eletrônica que amplia o acesso a esse segmento específico do acervo da antiga Dops-PE. A publicação reúne ensaios das sociólogas Anita Pequeno e Sophia Branco, autoras dos textos analíticos que compõem o e-book.
Também participam da atividade a jornalista e produtora cultural Clarice Hoffmann, idealizadora do projeto e responsável pela sistematização dos dados dos prontuários, e o coordenador de acervos digitais do Apeje, Marcos Dornelas, que aborda os processos de preservação, organização e difusão do acervo histórico.
Roda de diálogo e acesso ao acervo
A roda de diálogo será mediada pela fundadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila. Durante o encontro, o público poderá conhecer trajetórias de mulheres negras e brancas, jovens e idosas, intelectuais e operárias, cujas atuações políticas foram monitoradas pelo Estado.
Prontuários sistematizados ao longo da pesquisa estarão em exibição no espaço do Arquivo Público, permitindo o contato direto com parte da documentação analisada. O acervo da extinta Dops-PE é considerado uma fonte central para estudos sobre vigilância e repressão nos períodos autoritários do Brasil republicano.
Acessibilidade e financiamento
O e-book será disponibilizado gratuitamente por meio dos perfis @mulhereseresistencias e @arquivopublicodepernambuco, no Instagram. Todas as imagens da publicação contam com audiodescrição, garantindo o acesso de pessoas com deficiência visual. A roda de diálogo contará com intérpretes de Libras, assegurando a participação de pessoas com deficiência auditiva.
O projeto foi contemplado no Edital de Ações Criativas da Lei Paulo Gustavo (LPG) e conta com o apoio do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, além do incentivo da Secretaria de Cultura de Pernambuco, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Serviço:
Mulheres e Resistências – Caminhos de insubmissão nos arquivos da Dops-PE
Lançamento de e-book com roda de diálogo
Mediação: fundadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila
Participações: socióloga Anita Pequeno, jornalista Clarice Hoffmann, coordenador de acervos digitais do APEJE Marcos Dornelas e socióloga Sophia Branco
📅 Terça-feira, 16 de dezembro
⏰ Das 10h às 11h30
📍 Auditório do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje)
Rua do Imperador Dom Pedro II, nº 371 – Santo Antônio, Recife
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