A inclusão da doença hepática gordurosa não alcoólica com fibrose entre os critérios para cirurgia bariátrica representa um avanço no tratamento de condições metabólicas complexas, segundo o hepatologista Pedro Falcão. “É um reconhecimento da gravidade da doença hepática gordurosa não alcoólica, que muitas vezes passa despercebida até atingir estágios avançados. A elastografia hepática, realizada por meio do FibroScan®️, é hoje uma ferramenta essencial para o diagnóstico e monitoramento da fibrose hepática, e está disponível tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto em consultório particular. Essa decisão do CFM reforça a importância de uma avaliação hepática detalhada antes da indicação cirúrgica”, afirma o médico.
A análise do especialista se refere à Resolução nº 2.429/2025, publicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) no Diário Oficial da União. A norma consolida diretrizes anteriores e atualiza os critérios para a realização da cirurgia bariátrica e metabólica em adultos e adolescentes, com base em evidências científicas recentes.
Pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 e 35 passam a ser elegíveis, desde que apresentem comorbidades como diabetes tipo 2, apneia obstrutiva grave do sono, doença cardiovascular com lesão de órgão-alvo, doença renal crônica precoce, refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica, osteoartrose grave ou esteatose hepática com fibrose.
Adolescentes a partir dos 14 anos também poderão realizar o procedimento, desde que tenham IMC acima de 40 e comorbidades associadas. Para os que têm entre 16 e 18 anos, os critérios passam a ser os mesmos aplicados aos adultos. Em todos os casos, é necessária a avaliação de equipe multidisciplinar e o consentimento dos responsáveis.
A resolução também elimina exigências anteriores, como limite de idade, tempo mínimo de diagnóstico de diabetes tipo 2 e comprovação de acompanhamento endocrinológico por dois anos. A medida busca individualizar o tratamento e facilitar o acesso à cirurgia para pacientes com real indicação clínica.
As diretrizes foram formuladas por uma Câmara Técnica do CFM com a participação de profissionais como os cirurgiões Fábio Viegas e Antonio Carlos Valezi, ex-presidentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O objetivo é garantir que o procedimento seja indicado de forma criteriosa, com base no estado clínico e no risco metabólico de cada paciente.