No Carnaval, impasse na segurança, cabelo pintado, Recife animado e Olinda parada no tempo

Márcio Didier

Atualizado em 15/2 *

O Carnaval chegou ao fim. E o balanço da folia é mais positivo do que negativo. Principal preocupação antes da festa pela troca de comando, a segurança foi garantida nos principais focos de folia. Quem esteve no Galo da Madrugada, nas ladeiras de Olinda e no Marco Zero pode ver muito policiamento.

No entanto, houve episódios que mancharam a atuação da Polícia. As mortes de um turista e do dono de um posto, ambos em Olinda, e de um turista em Boa Viagem poderiam ocorrer inclusive fora da festa, mas entram para as estatísticas negativa. Além disso, houve um impasse entre os números da Secretaria de Defesa Social e do Sindicato dos Policiais Civis. A governadora que antes da festa fez questão de aparecer no comando das forças policiais, não apareceu para fazer o balanço. Poderia ter feito isso.

A governadora também circulou pelos principais polos de animação em vários municípios do interior do Estado. A começar pela abertura oficial da folia em Olinda. No Recife, participou do café da manhã do Galo da Madrugada.

Recife nevado

No Carnaval superlativo em números do Recife, tudo ocorreu dentro do esperado, com transporte funcionando. Boas atrações de fora do Estado, com a exigência de tocar ao menos um frevo. Alguns deram um ninja e pediram ao DJ para colocar uma música pernambucana no sistema de som, apenas para cumprir o acordado. Fora isso, alguns atrasos em shows, que incomodam, mas não chegaram a comprometer.  

No entanto, a principal atração do Carnaval deste ano da capital pernambucana não foi nem a festa em si. Mas uma estratégia de marketing do prefeito João Campos.

No dia da abertura, a notícia que ocupou os sites e redes sociais não foi a celebração, ou o encontro de maracatus em homenagem a Naná Vasconcelos, ou a principal atração da noite, o cantor baiano Gilberto Gil, nada disso.

O que roubou a cena foi a pintura do cabelo de João Campos, que platinou os seus fios ao aceitar o desafio do movimento brega de “nevar” a cabeleira. Com isso, viu as suas redes sociais bombarem com o vídeo em que aparecia com cabelos brancos, que bateu milhões de acessos. De lambuja, o gestor ainda passou dos dois milhões de seguidores no Instagram.

“Já tava muito acostumado com o cabelo nevado. Então agora eu vou me acostumar ao cabelo aí parecido com a cor original. Segundo cabeleireiro com dois meses e meio já tá aí todo 100% original. Ele pintou três vezes com cores diferentes. Misturava fazia uma química 70% de um, 30% de outro, não sei o quê. No final eu espero que tenha dado certo”, brincou o prefeito João Campos, durante a entrevista de balanço do Carnaval nesta quarta-feira de cinzas, às 8h, e já com os cabelos na cor similar com a antiga.

Olinda e os problemas

Se no Recife a sensação é de que tudo funcionou como programado, em Olinda não se pode dizer o mesmo. A cada ano a festa vai ficando mais caótica. O transporte não funciona, os  ambulantes ocupam calçadas e disputam espaço com os blocos, que, por sua vez, diminuem em número a cada ano, provocando o estrangulamento nos poucos que se dispõem a enfrentar as ruas desordenadas da Cidade Alta.

A impressão que sem tem é que Olinda pega a receita do Carnaval de 20 anos atrás e coloca em prática, sem considerar as evoluções da sociedade. O descontrole urbano é total.

Na Praça do Carmo, principal ponto de acesso ao Carnaval, os taxistas se amontoam, formando filas duplas e até triplas à espera dos passageiros. Dividem espaço com mototaxistas e carros de aplicativo. Além do caos urbano, representa um risco para os foliões que transitam distraídos pela via fechada e são surpreendidos por uma moto ou um carro em alta velocidade, pilotados por motoristas ansiosos em levar o passageiro e voltar para nova viagem.

Taxistas, mototaxistas e motoristas por aplicativo têm que ficar fora da cidade!

A desculpa de que estão no foco da folia para beneficiar os foliões não cola. Até porque quem passa o dia inteiro subindo e descendo ladeira pode muito bem ir até a entrada da cidade para pegar um transporte, como fazem os que optam por deixar o carro no shopping e pegar o Expresso da Folia.

Fora a questão da desordem urbana, inclusive com um caminhão de lixo andando contra o fluxo da 27 de janeiro (na frente da Pitombeira) na segunda de Carnaval às 11h, não há qualquer estratégia da gestão municipal para estimular os blocos de rua. A cada ano que passa, eles vão minguando. Talvez a prefeitura pudesse criar um concurso, para a troça mais criativa, que teria direito a uma orquestra no ano seguinte. Coisa desse tipo.

Mas a verdade é que a Olinda do frevo está se transformando no paraíso das escolas de samba, que saem arrastando tudo que vê pela frente, inclusive os blocos.

É urgente repensar o Carnaval de Olinda, sob pena de perder foliões (este ano já era nítido a queda no número de pessoas) e consequentemente arrecadação.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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