Dia de clássico no futebol em Pernambuco. Dia de horror

Márcio Didier

Toda vez o mesmo absurdo. Sai governo, entra governo e nada muda. Em dia de clássico em Pernambuco, o Grande Recife vira uma praça de guerra, em que dois grupos que dizem defender as cores dos seus times se enfrentam nas ruas. Não é admissível que as pessoas não possam ir às ruas, que o trabalhador corra o risco de se machucar só porque meia dúzia de maloqueiros decidem usar o futebol como pretexto para resolver as desavenças pessoais, extravasar os seus demônios internos. E o pior, nada muda. No sábado, antes e depois da vitória do Sport sobre o Santa, na Arena de Pernambuco, vários confrontos foram registrados, deixando três maloqueiros que se dizem torcedor e um policial ferido. Isso sem falar do palco do jogo, em que houve perregue com a torcida e agressão a jornalista.

Logo mais às 11h30, a Polícia Militar vai dar uma coletiva em que dirá o que vai ser feito para evitar esses confrontos nos próximos jogos. Vão detalhar as ações da Corporação que culminaram em várias prisões de suspeitos e apreensões de artefatos na RMR, e as futuras ações para coibir as ações. Mas a questão não é só a PM se pronunciar. Tem que envolver a federação, os clubes e a classe política. Não dá mais para ficar empurrando o debate para debaixo do tapete. Tem que se buscar formas de se antecipar para evitar essas cenas de barbáries em dia de jogos.

Há anos que o tema entra e sai de pauta na Assembleia Legislativa. Sempre que há um confronto entre os marginais que se dizem torcedores, é um tal de audiência pública, de debate de medidas para impedir esses atos… Mas esse tipo de assunto é ruim para os políticos. É marginal e os faz perderem votos. E os debates cessam poucos dias depois. Só volta à pauta nos próximos atos de barbárie.

Exemplo da Fifa

No fim de semana, diante da reincidência nas agressões, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, defendeu derrota automática para times cujos torcedores cometam racismo ou injúria racial.

Talvez esse fosse o caminho a seguirmos por aqui. Se bem que tenho muitas dúvidas que esses maloqueiros sejam torcedores. Também poderia haver uma multa pesada às torcidas organizadas envolvidas. Os diretores desses grupos podem até alegar que não tem como saber se essas pessoas são ligadas a ela. Pois então trate de selecionar melhor seus sócios. Até porque as torcidas organizadas lucram com eles. Então que também assuma o controle sobre eles.

Não bastasse a violência nas ruas, um absurdo desrespeito com a torcida do Santa Cruz na entrada da Arena de Pernambuco. Um equipamento de Copa do Mundo não poderia produzir cenas cruéis, em que torcedores se amontoam como gado para entrar no estádio.

Repórter agredida

Por fim, mas muito importante e que não se repita, para fechar o show de horrores que envolveu o clássico entre Sport e Santa, a repórter Camila Sousa, do GE Pernambuco, que pertence ao Grupo Globo, foi alvo de agressões verbais e cusparadas por dois torcedores do Sport. Eu não sei nem o que se passa pela cabeça de dois imbecis desses. E é melhor até nem falar o que acho deles para manter o nível da coluna.

Quando colocamos as várias camadas uma sobre a outra, entendemos o tamanho do buraco que o futebol pernambucano se meteu, ou foi colocado, e não consegue sair. Violento e sem respeito à imprensa e ao torcedor de verdade, assistir a um clássico em Pernambuco há muitos anos deixou de ser um prazer e tornou-se uma tortura.

 Lamentável e triste onde chegamos.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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