Apesar dos avanços da medicina em relação à prevenção e a convivência com o vírus da imunodeficiência adquirida, o HIV, e a Aids, o preconceito, a falta de conhecimento e o estigma continuam como os piores adversários. Para refletir sobre o tema, analisar como as múltiplas faces da rejeição e discriminação afetam as pessoas que convivem com HIV/Aids, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), em parceria com a ONG Gestos (Soropositividade, Comunicação e Gênero) e a Internacional Aids Society (IAS) promovem a exposição “Faces do HIV”.
Debate
A exposição é gratuita e poderá ser visitada entre 4 e 15 de dezembro, mês nacional de enfrentamento e prevenção à Aids. A abertura acontecerá às 16h da próxima segunda-feira (04.12). As fotografias ficarão expostas no hall superior do Edifício Governador Miguel Arraes, na sede da Alepe, na Rua da União. Também haverá debate sobre ‘Prevenção Combinada ao HIV e Enfrentamento ao Estigma’ para estudantes da rede pública do estado.
O debate acontecerá também na segunda-feira (04), às 14h, no Auditório Ênio Guerra (ALEPE). O evento terá a participação de algumas das pessoas fotografadas na exposição, além de profissionais da instituição e integrantes do Grupo de Trabalho em Ativismo Jovem (GT Jovem) da Gestos.
Voluntários
Os quadros retratam pessoas vivendo com HIV/AIDS que optaram, voluntariamente, por ser símbolos do enfrentamento ao estigma e preconceito. O trabalho é assinado pelos fotógrafos Nina Luna e Helder Ferrer. A exposição mostrará personagens que tiveram a coragem de compartilhar experiências reais de sorofobia (preconceito e discriminação contra PVHAs) e o impacto que isso tem em suas vidas, além de reflexões empoderadas sobre o que é viver com HIV/Aids.
Na avaliação da coordenadora geral da Gestos, Alessandra Nilo, as pessoas retratadas nas fotografias simbolizam um ato de coragem.
“Em um contexto de estigmatização de sujeitos e violação de direitos sociais, dar rosto à luta contra o preconceito é um ato de coragem”, destacou Alessandra Nilo.
Maior desafio
Para Alessandra, superar o preconceito e a sorofobia é, ainda hoje, o maior desafio para uma resposta efetiva ao HIV, uma vez que, segundo ela, tais comportamentos criam barreiras sociais que impedem a busca pela testagem e o início do tratamento antirretroviral.
Segundo o superintendente geral da Alepe, Isaltino Nascimento, a exposição Faces do HIV tem como meta mostrar que o vírus não escolhe gênero, sexo ou classe social e que é preciso informação e trabalho de concientização para acabar com o preconceito.
“Trouxemos essa exposição para Alepe para mostrar que conviver com a doença é bem mais difícil quando tem preconceito. O soropositivo não deve ser excluído da sociedade. Mostrar as pessoas e debater o tema na casa do povo pernambucano ajuda a quebrar o estigma e se torna uma ferramenta importante de conscientização”, enfatizou Isaltino Nascimento.
Enfrentamento
É importante destacar que a estigmatização permanece viva mesmo depois de 40 anos da descoberta do vírus da imunodeficiência adquirida, do HIV, e a Aids. Para o ativista e estudante de ciências sociais Max Lobato, um dos modelos retratados pela exposição, as fotos deixam muito evidente um aspecto que precisa ser sempre enfatizado.
“O HIV é, na verdade, uma pauta política e não uma relação de saúde, porque é atravessada por interseccionalidades, onde a raça e a identidade de gênero são as principais delas. Isso é um reflexo desses movimentos externos que acontecem, de não acolhimento, de não garantia dos direitos sociais”, afirma Max Lobato.
Estatísticas
De acordo com o Índice de Estigma e Discriminação em Relação às Pessoas Vivendo com HIV/Aids – estudo realizado em 2019 pela Gestos em parceria com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) em cinco capitais brasileiras (Recife, Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Manaus) – pelo menos seis em cada dez pessoas (64,1%) que vivem com HIV e Aids já sofreram estigma ou discriminação.
No Recife, 28% das pessoas entrevistadas pela pesquisa demoraram e/ou não iniciaram o tratamento antirretroviral por medo de que familiares e pessoas conhecidas descobrissem sua condição sorológica; outras 24,7% tiveram medo de que profissionais de saúde e médicos revelassem suas sorologias sem seu consentimento.