Considerado um dos mais orgânicos dos partidos brasileiros, o PT de Pernambuco parece ter adotado uma nova postura para se fortalecer no Estado. Aquela posição mais sectária parece estar perdendo espaço para o pragmatismo de resultados. Lógico que vão negar, mas os fatos falam mais alto e abafam essas vozes. Não é ilegal, imoral ou engorda. Apenas, talvez, uma mudança de postura como o “Lulinha paz e amor” de 2002.
No último sábado, por exemplo, o partido recebeu com festa e a presença da presidente nacional, Gleisi Hoffmann, o pré-candidato a prefeito de Jaboatão Elias Gomes em seus quadros.
Com um pequeno esforço de memória chegaremos ao período do impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O principal partido que comandou o processo foi o PSDB. Inclusive o voto na Câmara Federal que decretou a cassação foi do então deputado federal Bruno Araújo.
Pois bem, em Pernambuco, quem ocupava a vice-presidência do tucanato era justamente Elias Gomes. Em artigo, na época, Elias escreveu que diante da “inabilidade da atual governante não restou outra alternativa que não a de manifestar o voto pelo impedimento”. O filho de Elias, o então deputado federal Betinho Gomes, votou a favor do impedimento.
Os integrantes podem alegar, e com razão, que Elias sempre militou em partidos de centro-esquerda, como MDB, PPS e PSDB. Mas a verdade é que, no momento de maior fragilidade do PT, ele estava do lado contrário, defendendo a saída de Dilma. Foi passada uma borracha por cima disso.
Em agosto passado, o comando do partido em Pernambuco decidiu que a sigla faria oposição à gestão de Raquel Lyra. Corta para a votação do pacote fiscal da governadora, nesta terça-feira (26), na Assembleia Legislativa.
Apesar da resolução, a bancada do PT na Casa de Joaquim Nabuco votou fechada a favor da matéria, que incluía o indigesto reajuste da alíquota do ICMS de 18% para 20,5%.
Mas tá suave, pois em troca houve um reajuste de 38% no Programa Chapéu de Palha, talvez tenham pensado os petistas, numa permuta pragmática de votos por uma proposta do partido. É, pode ser. O único porém é que o ICMS incide sobre tudo, elevando os preços das mercadorias em cadeia. Sem distinções de classe.
O que se desenha é que o PT trabalha em várias frentes buscando criar musculatura para eventuais voos mais altos, um projeto estadual. Como o próprio presidente estadual, Doriel Barros, já externou, de ter Humberto Costa candidato ao Governo. Daí o pragmatismo. Quer seja atraindo aliados para disputar prefeituras importantes no Estado, mesmo que seja necessária uma amnésia seletiva do passado; quer seja mantendo a sua base no campo, como o reajuste do chapéu de palha. Mesmo que para isso seja preciso apoiar um aumento de impostos.
2 respostas
Grande Márcio! Primeiro parabenizá-lo pela matéria. Quando se fala em “amnésia seletiva do passado”, não muito distante lembro-me das palavras duras e verdadeiras do atual Vice-Presidente da República(CHUCHU)para o então candidato Nine…vai perdurar pela eternidade, não tem como apagar!
Obrigado pelas palavras, meu caro. Mas na política esse tipo de esquecimento é muito comum e frequente