Onipresente na Redação, sempre em momentos inusitados

Antiga foto da Redação do JC, com Eduardo Lemos (de gravata)

A redação de jornal é um dos espaços mais horizontais no processo de produção. O fato de os jornalistas um dia terem sido estagiários, antes de chegarem à chefia, faz com que o diálogo e a convivência respeitem uma hierarquia singular, diferente da maioria dos trabalhos.

Talvez por isso a Redação seja um espaço aberto para muitas brincadeiras, piadas e, também, palavras de baixo calão. De toda ordem e intensidade. São ditas quase como um singelo bom dia.

O Jornal do Commercio teve, por muitos anos, um superintendente que gostava de estar presente na Redação, da convivência com os jornalistas. O problema é que Eduardo Lemos (o de gravata, na foto) era onipresente.

Na hora de maior tensão, quando alguém soltava um palavrão no mais alto tom, bastava olhar para o lado que ele certamente estaria ali, para o constrangimento dos jornalistas. Mas houve vergonha maior e não foi por causa das exacerbações verbais.

“Aiô, Silver”

No início dos anos de 1990, a Redação da Rua do Imperador tinha apenas uma televisão. Funcionava num cubículo refinado, de 9 metros quadrados, coberto de ripado de madeiras escura. Antecedia a sala do editor-geral, Ivanildo Sampaio e a Editoria de Brasil/Internacional.

Certa vez, Ivanildo havia viajado. Se valendo disso, dois repórteres, cujos nomes serão preservados, aproveitaram para brincar, vejam só, de cavalinho. O homem ficou de quatro, enquanto a repórter montava. Segurava na gola da camisa com uma mão e levantava o outro braço, como se estivesse num rodeio. Do nada, Eduardo Lemos abre a porta e vê a cena. Sem dar qualquer palavra, fechou a porta e saiu. Não tocou no assunto, e a história rendeu boas gargalhadas na redação.

Eduardo Lemos tinha por volta de 1,80, esguio, cabelos penteados para o lado e passos ritmados. Não raras vezes, procurava algum jornalista diretamente na redação, para passar uma sugestão de pauta ou alguma informação.

Engano na Redação

Numa tarde, deixou a sala do diretor-adjunto de Redação, Roberto Tavares que ficava na lateral oposta à sala de Ivanildo Sampaio, seu destino naquele momento. Quando passava por uma das bancadas de jornalistas, foi surpreendido com uma forte tapa na caixa dos peitos.

O som oco do tapão contrastou com o silêncio incrédulo de todos os presentes. Poucos acreditavam no que o editor-assistente de Esportes, José Neves (lembram da história do jogo na Bahia? É ele mesmo), acabara de fazer. Estava batendo uma matéria , viu um vulto magro cindo em sua direção e rodou o braço, dando o tapa.

O pedido de desculpas veio acompanhado de uma explicação. “Desculpe, Dr. Lemos. Eu pensei que o senhor era Pedro Marins”, afirmou, constrangido, Zé Neves. Se referia ao colega de Redação igualmente esguio e alto como o superintendente.

Desde esse dia em diante, Eduardo Lemos evitou passar pela Redação. Principalmente passar perto de José Neves.

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6 respostas

  1. Saudades do Dr Lemos. Era feito o mestre dos magos, aparecia do nada e saia a francesa. Sempre muito cordial comigo. Chegava no estúdio da CBN e logo perguntava, “cadê o gordinho”? Meu chefe chegava a ficar com ciúmes pq tudo que ela queria na CBN só falava comigo hahahah. Saudoso Dr Lemos.

  2. Aprendi muito com meu sogro sobre comunicação. Um craque! Nos almoços de sábado, conversávamos bastante, dele recebi bons e preciosos conselhos sobre relação interpessoal na empresa, (do que o artigo trata acima) um profissional extremamente sério e dedicado. Ético, brilhante! Discreto, de poucas palavras, tinha uma capacidade incrível de identificar talentos e dar oportunidades aos colaboradores. Saudades das nossas conversas! Como é bom ouvir histórias assim. Ele merece todas as homenagens. Pessoas como ele, fazem falta nas redações… a escassez de líderes da sua estirpe é inegável.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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