j. Borges tinha 88 anos e levou a sua arte para vários países Foto Divulgação

Uma perda irreparável para a cultura. Morreu na manhã desta sexta-feira (26), aos 88 anos, o xilogravurista J. Borges. De acordo com informações da família, ele morreu em casa, no município de Bezerros, de causas naturais. Ele era Patrimônio Vivo de Pernambuco.

José Francisco Borges, ou simplesmente J. Borges, nasceu em Bezerros, em 20 de dezembro de 1935. Foi na sua cidade que começou a desenvolver o seu trabalho produzindo, escrevendo, ilustrando e publicando os seus folhetos, feito utilizando a técnica de xilogravura, impressão de papel a partir de matriz de madeira entalhada..

Aos 8 anos, Francisco Borges já trabalhava na terra com o pai. Aos dez, fabricava e vendia na feira colheres de pau. Foi oleiro, confeccionou brinquedos artesanais e vendeu livros de cordel.

Aos 21 anos, José resolveu que iria escrever cordel. Foi quando fez ” O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina”, que foi xilogravada por Mestre Dila, que vendeu mais de cinco mil exemplares em dois meses.

Como não tinha dinheiro para bancar um ilustrador, J. Borges resolveu fazer ele mesmo: começou a entalhar na madeira a fachada da igreja de Bezerros, que usou em O Verdadeiro Aviso de Frei Damião. Desde então, começou a fazer matrizes por encomenda e, também, para ilustrar os mais de 200 cordéis que lançou ao longo da vida.

J. Borges ganhou fama nos anos de 1970

Descoberto por colecionadores e marchands, viu seu trabalho ser levado aos meios acadêmicos do país. Na década de 1970, José Borges desenhou a capa de “As Palavras Andantes”, de Eduardo Galeano e gravuras suas foram usadas na abertura da Telenovela Roque Santeiro, da Rede Globo.

Nessa época, começou a gravar matrizes dissociadas dos cordéis, de maior tamanho. Isso permitiu expor no exterior: em 1992, na Galeria Stähli, em Zurique, e no Museu de Arte Popular de Santa Fé, na cidade de Novo México. Depois, novas exposições, na Europa e nos Estados Unidos.

Foi convidado e deu aulas na Europa e nos EUA de Xilogravura e entalhamento em madeira.

J. Borges foi condecorado com a comenda da Ordem do Mérito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o prêmio Unesco na categoria Ação Educativa/Cultural. Em 2002, foi um dos treze artistas escolhidos para ilustrar o calendário anual das Nações Unidas. Sua xilogravura A Vida na Floresta abre o ano no calendário. Em 2006, foi tema de reportagem no The New York Times. O escritor Ariano Suassuna, que morreu há 10 anos, o considerava o melhor gravador popular do Nordeste.

Suas xilogravuras são impressas em grande quantidade, em diversos tamanhos, e vendidas a intelectuais, artistas e colecionadores de arte. Dono de uma técnica própria de colorir as imagens, atendia pedidos para representar cotidiano do pobre, o cangaço, o amor, os castigos do céu, os mistérios, os milagres, crimes e corrupção, os folguedos populares, a religiosidade, a picardia, sempre ligados ao povo nordestino.

Em sua cidade natal, foi inaugurado o Memorial J. Borges, com exposição de parte de sua obra e objetos pessoais.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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