Jarbas, São João, artesanato, reforma administrativa e uma entrevista frustrada

Jarbas vasconcelos visita Manuel Eudócio

A Fenearte chega ao fim neste domingo (14). Principal feira de cultura popular de Pernambuco, ela é uma vitrine perfeita para centenas de artesãos, que encantam os visitantes que percorrem os corredores da feira e têm a oportunidade de ter um contato direto com os artistas. É difícil não se encantar com a produção desses operários da arte.

A Fenearte é obra de um dos maiores apreciadores dos trabalhos dos artesãos, principalmente pernambucanos. Em 2000, no seu primeiro mandato como governador, Jarbas Vasconcelos idealizou a criação da feira, que já caiu no gosto da população.

Um dos maiores colecionadores de arte popular do País, Jarbas está sempre atrás de uma nova peça para a sua coleção. Nas viagens que fazia pelos municípios pernambucanos, sempre que tinha oportunidade de desestressar visitando o ateliê de algum artista.

Foi isso que ele fez, no início dos anos 2000. Bombardeado por todos os jornalistas sobre uma reforma administrativa que estava gestando, ele aproveitou que estava em Caruaru para acompanhar a noite de São João e foi ao atelier de um dos mestres do Alto do Moura, Manuel Eudócio. Conversou um bocado e viu as peças produzidas pelo artista.

jarbas e a reforma

Pautado pelo meu editor Ciro Carlos Rocha para tentar arrancar detalhes da reforma, recebi a informação de que o governador estava na oficina do artesão. Não tive dúvida. Peguei o carro e foi pro Alto do Moura, mas cheguei tarde. Jarbas tinha saído, após encomendar duas peças.

Aproveitei para conversar um pouco com Manuel Eudócio, um homem de modos simples, fala calma e pausada, mas com uma obra fantástica, rica em detalhes e multicolorida, mas de muito bom gosto. Ele contou que o governador sempre ia lá, e sempre encomendava peças. Foram mais de duas horas de uma ótima conversa e muito aprendizado.

À noite, no camarote da prefeitura, Jarbas, como de costume, chegou cedo, e circulou um pouco, fora do cercadinho reservado para as autoridades. O governador não queria conversa sobre a reforma. Tinha que pensar numa estratégia para conseguir arrancar algo dele. Até que tive uma ideia.

Quando veio me cumprimentar, eu devolvi. “O senhor esteve em Manuel Eudócio hoje, não foi? Que trabalho maravilhoso o dele”. Ele foi receptivo e engatamos uma conversa sobre a arte popular, um assunto que sempre gostei.

Depois de mais de meia hora de conversa, quando clima para entrar no assunto da reforma estava quase administrado, o jornalista Ricardo Dantas Barreto, editor de Política da Folha de Pernambuco à época e única pessoa com coragem de, sempre que encontrava Miguel Arraes dizia “eu quero sangue”, numa referência a uma possível declaração bombástica da parte do líder socialista.

Ao chegar no camarote, Ricardo foi direto participar a conversa. Ao se aproximar, foi direto na pergunta: “Governador, e a reforma?”.

Sem dar qualquer palavra, Jarbas deu meia volta e entrou no cercadinho das autoridades. Não falou com mais ninguém da imprensa e eu fiquei sem a minha matéria. Dias depois enviou a reforma para a Assembleia Legislativa.

Foto: Blog do Wagner Gil

Nota do editor:

Por vários motivos, a coluna Crônicas do Sábado não foi publicada nas últimas quatro semanas. A partir desta semana, volta a ser publicada. Peço desculpas e agradeço aos leitores.

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3 respostas

  1. Fui repórter de Ricardo. Adorava o estilo dele. Quando saia pra rua, ele repetia o jargão que criou. “Eu quero sangue”. Tão diferente do jornalismo atual. Sinto falta.
    E vc, Márcio, nunca tive a oportunidade de trabalhar contigp, mas vc é um excelente jornalista, dos bons e com outras estratégias. Rss

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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