Na política, como na vida, é preciso saber escolher as guerras. Analisar o adversário, estudar estratégias, controlar as emoções, conhecer o ambiente de disputa e ter ciência do tamanho dos estragos. A eleição pelo comando do MDB, no último sábado, mostrou que várias etapas foram queimadas pelo grupo de oposição ao presidente e candidato à reeleição Raul Henry. Eles usaram como maior trunfo, talvez único, a figura do ex-governador Jarbas Vasconcelos. E caíram na pior armadilha da política, a de agir com o fígado.
Colocado na vitrine da disputa, o deputado Jarbas Filho perdeu e de uma forma dura, com 16 votos a menos do que os 65 de Raul. Mas não foi o único derrotado: ao seu lado estão o senador Fernando Dueire e, por tabela, a governadora Raquel Lyra.
Jarbas Filho tinha muito mais a perder do que Raul Henry na disputa. Esticou a corda, apostou na imagem e nos símbolos da trajetória do seu pai Jarbas Vasconcelos. No dia da convenção, por exemplo, um carro de som repetia à exaustão do lado de fora da Câmara do Recife o Hino de Pernambuco em várias versões, numa referência à iniciativa do então governador Jarbas, que gravou CD com todas elas. Deputado de primeiro mandato, após a derrota disse que permaneceria no MDB, mas enfrentará um clima hostil, e deverá ter dificuldades de se reeleger pela sigla. Diferentemente dele, se Raul perdesse, estaria no guarda-chuva do prefeito João Campos, e não teria dificuldade para redefinir o seu caminho político.
Um dos principais articuladores da rebelião no MDB, o senador Fernando Dueire talvez seja o que mais tem a perder. Sabia que não teria espaço para disputar a reeleição pelo lado do prefeito João Campos. Partiu então para a jogada ousada de se unir a Jarbas Filho e, juntos, tentarem tomar o partido de Raul Henry. Com um partido na mão, poderia tentar buscar uma vaga na chapa da governadora Raquel Lyra. Sem a legenda, no entanto, fica muito difícil construir a candidatura à reeleição. Possivelmente terá que buscar outro caminho na política.
Personagem oculta, ou não, nesta disputa do MDB, a governadora Raquel Lyra, apesar de não se pronunciar formalmente, nos bastidores todo o mundo político sabia que a vitória de Jarbas Filho seria interessantíssima para ela. Tanto que, no seu discurso de vitória, Raul Henry disse que está ao lado do PSB e defende “explicitamente” o prefeito João Campos, mostrando que num eventual confronto entre a gestora e João Campos, o partido já tem definido o lado.
Muito mais do que a eleição do MDB
A disputa no MDB mostrou que, na política, perder uma eleição interna pode custar mais do que um cargo: pode comprometer projetos eleitorais e redes de alianças. Jarbas Filho e Dueire apostaram em uma operação de risco e saíram com menos força para 2026. Raul Henry, por sua vez, consolidou seu comando e reforçou a aliança com o PSB. Desafiado a disputar a guerra, ele organizou seu exército e só atacou na hora certa, sem antecipar jogadas ou trunfos que tinha.
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