A médica Dra Lucia, ou Teteta faz do atendimento aos pequenos a sua missão

Há pessoas que não precisam de esforço para encantar. Basta um oi, que você se sente acolhido, abraçado mesmo fora dos braços. Querida, amada, jamais esquecida. 

Conheci Dra. Lúcia muito cedo, quando ainda era chamada de Teteta. Pediatra de formação, de tanto amor pela Medicina, decidiu cuidar dos corações das crianças e, até, de quem ainda nem nasceu e está esperando para vir ao mundo, na barriga da mamãe. Fez e faz do cuidado com os pequenos o seu sentido de vida.

Talvez ela tenha se apaixonado pelo ofício cedo, quando brincava à noite de 31 Alerta (Esconde-Esconde para os mais novos) na espaçosa área externa da casa na Avenida Sigismundo Gonçalves, em Olinda. 

Na ânsia de chegar à “mancha” (ponto de partida da brincadeira) antes da pessoa que a procurava, não enxergou o galho de uma acácia à sua frente. Feriu a parte inferior do olho. Por pouco não perdeu a visão. Felizmente deu tudo certo. Retornou à casa tarde, já de madrugada.

Entrou no quarto em que dormiam irmão e primos com um tampão em um dos olhos. Ao ver a cena, um deles, bem mais novo e ainda com o olhar nublado de quem acabara de acordar,  gritou por socorro, anunciando que tinha um “pirata” no quarto. Como é interessante a mente fantasiosa de uma criança.

A original médica da família

Médica formada numa época em que a visão humanista se sobrepunha completamente à medicina mercantilista, como é hoje, já era médica da família muito antes da criação, em 1994, do Programa Saúde da Família (PSF). Mas de um modo informal, claro.

Não tem hora para uma consulta com essa médica. É um tal de “Teteta, tó com uma dor no joelho, o que faço?”, “Teteta, to com muita dor de cabeça, será que posso tomar alguma coisa?”, “Teteta, tô com bicho de pé, tu podes tirar?”. E ela atende, sempre com alegria.

Certa vez, num domingo à noite, um tio ligou dizendo que estava com muita falta de ar e precisava que ela o visitasse para ver o que poderia fazer.  Dra. Lúcia levou seus equipamentos e remédios para uma possível crise de asma.  Ao chegar, o tio a recebeu sentando numa cadeira acolchoada. Natureba, ele começou um insólito relato sobre as ações que aplicou para tentar resolver o problema, sempre utilizando receitas famosas, ou nem tanto, da cultura popular.

“Tô com muita falta de ar, Teteta. Já fiz de tudo, já tomei todos os tipos receita, mas não deu jeito. Até chá de bosta de ganso tomei e não resolveu”, disse, para espanto da doutora e seu irmão, que não aguentaram e caíram na gargalhada, diante da face acabrunhada do tio, que foi medicado dentro da medicina tradicional e ficou bom.

Um ser tão especial, tinha que ter uma data nobre de nascimento. Na próxima quarta-feira, 25 de dezembro, dia do nascimento do Menino Jesus, Dra. Lúcia estreia idade nova. E eu estarei ao seu lado, como irmão sete anos mais novo. Estarei saudando a vida de Teteta, uma das pessoas mais doces e altruístas que conheço. E que tenho um orgulho desmesurado de chamar, desde pequeno, de minha irmã querida. 

  • Com esse texto sobre minha irmã, retomo as Crõnicas do Sábado, que passarei a chamar carinhosamente Crônicas do Sapo.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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