Márcio Didier
Em dois dias a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) assistiu a dois exemplos de comportamento dentro da Casa. Um positivo, olhando para a sociedade, atuando em busca de soluções para os problemas. E um negativo, com parlamentares se trocando com a galeria no debate de um assunto que não acrescenta absolutamente nada na vida do cidadão pernambucano.
Na terça-feira (23), o presidente da Casa, Álvaro Porto, ocupou a tribuna para relatar uma visita que recebeu em seu gabinete da presidente da União de Mães de Anjos em Pernambuco, Germana Soares, entidade que reúne mães de filhos com microcefalia.
Ela destacou que estava ali representando “a angústia dos familiares das 138 crianças” de todas as regiões do Estado que aguardam por cirurgia. Segundo ela, não há previsão de retomada dos procedimentos pelo Governo do Estado. Após ano e quase quatro meses de gestão.
“A demora e o silêncio do Governo do Estado não podem continuar a angustiar as famílias. Este caso merece e vai ser tratado com a urgência que a gravidade das crianças exige. E esta Casa não vai aceitar calada o pedido de socorro das mães destas crianças. Vamos nos mobilizar para construir soluções que recuperem a dignidade das crianças e dos seus familiares”, disse Álvaro Porto, na tribuna.
Ele não só cobrando uma solução, mas anunciou uma audiência pública para a próxima segunda-feira (29), na Alepe, para debater o caso.
Outro lado da Alepe
Nesta quarta-feira (24), diante de uma galeria inflamada, foi colocada em pauta a proposta da criação do “Dia Estadual de Valorização da Vida do Nascituro (criança que está no ventre da mãe)”, de autoria do deputado estadual Renato Antunes (PL). A proposta, no entanto, embutia um debate sobre o aborto, tema, inclusive, que deputados estaduais não têm qualquer poder de legislar.
Integrante da bancada evangélica da Casa, em sua justificativa para o projeto Antunes argumentou que, no Brasil, “muitos grupos de pressão pretendem avançar na pauta da descriminalização da prática abortiva”.
Convocadas pelas parlamentares contrárias a esse debate na Casa, das galerias, mulheres representando o movimento feminista reagiram aos posicionamentos sobre o projeto, com gritos de “gravidez forçada é tortura”, “o Estado é laico” e “defensor de estuprador”.
Nada contra apresentar a proposta, apesar do viés religioso em um Poder em que política e religião não deveriam ser colocadas na mesma frase. Mas a atitude dos parlamentares defensores da proposta durante a sessão, se trocando com as galerias, fazendo gestos, é o oposto que se espera de um deputado em uma Casa que está para completar 190 anos de uma história marcada por embates políticos calorosos e, apesar disso, respeitosos.
Provocação sem sentido
Ao fim da sessão, com a aprovação da proposta, o espetáculo que se esperava não poder ficar pior, ficou. Com a trajetória política voltada para a educação, o autor do projeto Renato Antunes foi para frente das galerias fazer birra. Colocando a mão no ouvido, ficou provocando as mulheres que estavam ali para acompanhar a sessão e protestar.
Vendo o colega se trocando com as manifestantes, o deputado Cleiton Collins, que na tribuna não teve muitos argumentos para defender a proposta que não dizer “vocês não defendem a vida? Vocês estão vivas!”, apressou o passo em direção às galerias para soltar beijinhos para o grupo”.
Melhor fariam esses deputados se ao invés de defenderem a criação de um dia no calendário de celebrações, cobrassem do Estado um acompanhamento pré-natal mais efetivo para as mulheres grávidas. Ou reforçassem o coro do apelo do presidente Álvaro Porto.
Ficar se trocando com as galerias e fazendo gestos, pode ser muito interessante para as redes sociais, mas não tem qualquer importância no dia a dia do cidadão de um Estado com tantos problemas a vencer como Pernambuco.
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