Crise da cana une produtores, usinas e Alepe por socorro emergencial

Alepe reúne setor canavieiro e consolida propostas emergenciais para enfrentar crise histórica da cana, com foco em subvenção, crédito e mitigação da estiagem

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) reuniu, nesta segunda-feira (1º), produtores, dirigentes de entidades, trabalhadores, usinas e representantes do Governo do Estado para discutir a crise inédita que ameaça a sustentabilidade da cadeia da cana-de-açúcar na Zona da Mata. O encontro, solicitado pelo deputado Antônio Moraes e conduzido pelo presidente da Comissão de Agricultura, deputado Luciano Duque, resultou na elaboração de propostas que serão encaminhadas aos governos federal e estadual. O setor estima retração superior a 20% na oferta de cana para a próxima safra caso não haja ações imediatas.

Os participantes apresentaram um cenário considerado o mais severo em décadas. A queda no preço da matéria-prima, o aumento dos custos operacionais, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações de biocombustíveis e a estiagem prolongada comprometem tanto os canaviais atuais quanto o potencial produtivo futuro.

Dados consolidados pela Conab indicam que o Nordeste pode registrar, em 2025, a menor moagem desde o fim dos anos 1990, com repercussão direta no mercado de trabalho agrícola e nas usinas.

Durante a audiência na Alepe, foram defendidas medidas emergenciais, como subvenção por tonelada, linhas de crédito direcionadas ao custeio, apoio às usinas e fornecedores e ações de mitigação da estiagem. O deputado Luciano Duque defendeu que as sugestões fossem reunidas em um documento a ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visita Pernambuco nesta terça-feira (2).

Essa cadeia produtiva sustenta milhares de famílias na Zona da Mata e precisa de respostas imediatas. Nosso dever é transformar esse debate em ações concretas”, afirmou Duque, que comandou a audiência na Alepe.

Alepe defende pacto regional

O deputado Antônio Moraes explicou que a audiência foi motivada por alerta de lideranças das principais entidades do setor, como Renato Cunha (SindAçúcar/PE), Alexandre Andrade Lima (AFCP) e Gerson Carneiro Leão (Sindicape).

Quero agradecer ao presidente da Comissão de Agricultura, Luciano Duque, pela maneira solícita com que nos atendeu. A nossa ideia foi exatamente a de fazer uma discussão objetiva e tirarmos encaminhamentos que possamos levar a uma audiência com a governadora Raquel Lyra”, afirmou Moraes.

O parlamentar acrescentou que iniciou discussões com a Casa Civil e com a Secretaria da Fazenda. “Precisamos apresentar novas soluções que sejam interessantes para todos, como num jogo de ‘ganha-ganha’, no qual ninguém saia perdendo. Nem o setor canavieiro, nem os trabalhadores e nem o governo”, completou.

Eduardo Monteiro faz alerta

Um dos pontos mais enfatizados na audiência foi o risco ao ativo biológico da cana, que depende de continuidade de investimentos para permanecer produtivo. O presidente do Grupo EQM, Eduardo Monteiro, destacou o caráter urgente da situação.

A cana é um patrimônio produtivo vivo. Se esse ativo morre, a recuperação não se faz em meses, mas em anos. Precisamos de medidas urgentes, federais e estaduais, para manter esse potencial de pé e garantir que o setor continue existindo”, afirmou.

Representantes da indústria reforçaram que a perda do canavial não afeta apenas a safra atual, mas compromete ciclos plurianuais de produção, o que pode levar ao fechamento definitivo de unidades industriais.

Trabalhadores e entidades pedem subvenção

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Cana de Palmares, Givanildo Marques, defendeu a retomada da subvenção, mecanismo já utilizado em gestões anteriores.
Acredito na disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em atender essa pauta. Sabemos que a subvenção foi criada pelo próprio presidente Lula, e não é preciso fazer muito além de reeditar esse instrumento tão importante para o produtor”, disse.

O cofundador da Única, Gregório Maranhão, ressaltou o impacto econômico mesmo em uma safra considerada difícil.
Apesar das dificuldades, a atividade ainda pode gerar cerca de R$ 180 milhões para Pernambuco, o que reforça a necessidade de medidas urgentes para evitar o colapso do segmento”, afirmou.

Relatório para a Comissão de Agricultura

Também participaram da audiência o presidente do SindAçúcar/PE, Renato Cunha; o presidente da AFCP, Alexandre Andrade Lima; o presidente do Sindicape, Gerson Carneiro Leão; a secretária executiva de Agricultura, Jackeline Gadé; o deputado federal Coronel Meira; e os deputados estaduais Nino de Enoque, Frans Hackett, Henrique Queiroz Filho e Doriel Barros.

As contribuições apresentadas serão incorporadas ao relatório da Comissão de Agricultura e enviadas ao Governo Federal, ao Governo de Pernambuco e à bancada federal, com o objetivo de articular ações imediatas para preservar a produção, a indústria e o emprego na Zona da Mata.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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