A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) parece ter-se transformado em samba de uma nota só. Há meses que, volta e meia, o mesmo tema retorna ao plenário: as críticas da governadora Raquel Lyra (PSD) ao Parlamento estadual. Nesta segunda-feira (20), o presidente da Casa, Álvaro Porto (PSDB), subiu à tribuna para defender o Legislativo e reagir à declaração de que “tem gente trabalhando contra Pernambuco”.
O discurso do presidente foi firme e gerou forte repercussão. Deputados de oposição manifestaram apoio à fala, enquanto quatro governistas pediram apartes, entre eles a líder do Governo, Socorro Pimentel (União Brasil). Porto acusou a gestora de usar a Assembleia como bode expiatório e de “criar uma narrativa de perseguição” para justificar a falta de resultados.
“A governadora tem dinheiro em caixa, mas lhe falta eficiência. O problema não é falta de recursos, é falta de gestão”, afirmou Porto.
“A narrativa da demora caiu por terra”
O presidente da Alepe disse que Raquel Lyra foi “desmascarada” ao culpar o Legislativo pela demora na liberação de empréstimos. Segundo ele, após afirmar que a Assembleia travava o desenvolvimento do Estado, o governo anunciou, na semana passada, a contratação de R$ 1,4 bilhão para as obras do Arco Metropolitano e da duplicação da BR-232 — recursos autorizados desde dezembro de 2024, pela Lei nº 18.730, dentro do Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal (PEF).
“O governo justificava que as obras estavam paradas porque ainda tramitava aqui um pedido de crédito de R$ 1,5 bilhão. Essa narrativa caiu por terra. A governadora tentou enganar a população. Tentou, mas não conseguiu — e não conseguirá”, disparou.
Porto afirmou que o Executivo “possui instrumentos legais, crédito e autorizações suficientes para investir, mas não entrega”. Segundo ele, o Estado tem mais de R$ 3 bilhões disponíveis e não utilizados, o que demonstra “ineficiência administrativa e morosidade”.
Álvaro lembra recursos aprovados
O parlamentar lembrou que, além do crédito de R$ 1,5 bilhão aprovado em setembro, duas operações de crédito autorizadas em 2024 seguem sem execução: uma de R$ 652 milhões junto ao BNDES e outra de US$ 275 milhões com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Ambas, segundo ele, não foram sequer contratadas.
“Santa incompetência!”, exclamou Porto, ao alertar que a não contratação com o BIRD aumenta a dívida pública, já que o objetivo era substituir empréstimos antigos por outros com juros menores.
O presidente destacou ainda que, dos mais de R$ 11 bilhões autorizados pela Alepe nos últimos dois anos, apenas 33% foram contratados e 19% pagos.
“Mais de R$ 7 bilhões permanecem sem utilização. O governo não tem pressa, não tem planejamento e não tem capacidade de execução”, criticou.

Debate acalorado em plenário
O discurso provocou reação imediata. A líder do Governo, Socorro Pimentel, pediu aparte e defendeu a governadora, argumentando que Raquel Lyra recebeu o Estado “abandonado” e “com dívidas herdadas do PSB”.
“A governadora trabalha, entrega e leva ações importantes para a população. Tenho muito apreço pelo senhor, presidente, mas preferiria que, enquanto líder da Casa, tivesse imparcialidade”, disse Socorro.
Ela também lembrou que o pedido de empréstimo de R$ 1,5 bilhão levou 154 dias para ser aprovado, e comparou com a celeridade de votações em gestões anteriores.
“Nos governos do PSB, havia agilidade porque a presidência da Assembleia era alinhada com o Governo”, afirmou.
Socorro destacou que o Arco Metropolitano e a duplicação da BR-232 até Belo Jardim serão executados pela atual gestão e que todos os deputados terão participação nas entregas.
“Todos os 49 deputados trabalham para ver Pernambuco crescendo. O Arco já deveria estar pronto, mas agora há uma governadora comprometida com obras estruturadoras”, concluiu.
Apesar das reações, Álvaro Porto manteve o tom crítico, dizendo que a Alepe continuará a cobrar eficiência e resultados concretos.
“A autorização parlamentar não é um cheque em branco. É um voto de confiança — e confiança se mantém com resultados, não com promessas”, finalizou o presidente, sob aplausos de parte do plenário.
Fotos: Roberto Soares/Alepe
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