Oposição manobra na Alepe, surpreende o governo e comandará CPI

A movimentação da oposição para garantir a maioria na CPI de contrato do govenro surpreendeu a todos na Alepe Foto Roberto Soares Alepe

Do Movimento Econômico

Numa ofensiva audaciosa e nunca vista na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), a bancada de oposição na Casa, coordenado pelo PSB, alterou a composição da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará contrato de publicidade da gestão estadual. Pego de surpresa com a movimentação no último dia de prazo para indicação de membros para o colegiado, o governo viu a vantagem de seis deputados a favor e três contra se transformar em cinco oposicionistas e quatro governistas. No plenário, os aliados da governadora Raquel Lyra admitiram buscar uma solução “fora do Legislativo”, judicializando a questão. Após as 19h, a Alepe divulgou a composição definitiva e anunciou que a instalação do colegiado será nesta terça-feira (19).

A virada ocorreu após a movimentação de três parlamentares que trocaram de partido, considerados da tropa de choque socialista na Casa. O deputado Diogo Moraes deixou o PSB e ingressou no PSDB, comandado em Pernambuco pelo presidente da Alepe, Álvaro Porto. Já o deputado Waldemar Borges trocou o PSB pelo MDB do secretário de Relações Institucionais do Recife, Raul Henry, enquanto o deputado Júnior Matuto filiou-se ao PRD, que abriga o vice-líder do Governo na Casa, deputado Joãozinho Tenório. Essas mudanças esvaziaram o blocão governista (PSDB, PRD, Solidariedade, MDB, União Brasil e Federação PT/PV/PCdoB), levando à alteração na composição da CPI e o equilíbrio entre governo e oposição.

As alterações nas filiações permitiram que a oposição conquistasse uma vantagem mínima, mas decisiva, no colegiado, que passou a ter esta composição:  

Indicados da oposição

  • Dani Portela (PSOL)
  • Rodrigo Farias (PSB)
  • Waldemar Borges (agora no MDB)
  • Diogo Moraes (agora PSDB)
  • Antonio Coelho (União)

Indicados pelo Governo

  • João Paulo (PT)
  • Antônio Moraes (PP)
  • Wanderson Florêncio (SD)

Independente (mas ligado ao Governo)

  • Nino de Enoque (PL)

Com a ação da oposição, o governo ensaiou uma reação para voltar a ter o domínio da CPI. Com dois deputados na Casa, um de cada campo político, o Republicanos está sem líder na Casa. Diante disso, o governista William Brígido enviou um ofício à presidência reclamando a liderança da sigla. No entanto, o requerimento foi rejeitado por não conter a assinatura do outro parlamentar da sigla, Mário Ricardo, de oposição.

Líder do PSB vê “movimento natural”

Líder do partido que comandou todas as mudanças e presidente estadual do PSB, o deputado Sileno Guedes avaliou as mudanças como um processo esperado no cenário político e um movimento natural da política.

Presidente estadual do PSB, Sileno Guedes disse se tratar de um “movimento natural” a troca de partido dos socialistas Foto: Roberto Soares/Alepe

“Respeitamos a posição pessoal de cada deputado e agradecemos a todos pelo excelente desempenho de seus mandatos. Este é um movimento natural da política, principalmente quando estamos a um ano do início das eleições de 2026, o que aumenta esse tipo de movimentação. O que é importante ressaltar é que esses deputados seguem defendendo um mesmo campo em Pernambuco. E, quando a oposição ao Governo Raquel Lyra consegue agregar outros partidos, a posição defendida pelo PSB desde o início do governo se fortalece”, afirmou.

Sileno destacou ainda que o PSB mantém a maior bancada da Alepe, com nove parlamentares. Segundo ele, a soma de forças com partidos de oposição e independentes garante maioria na Casa. “O PSB se sente contemplado quando partidos aliados se fortalecem em torno do melhor para Pernambuco. Inclusive os deputados solicitaram a anuência para mudar de sigla e, a exemplo do que ocorreu com o deputado Jarbas Filho – que teve a sua solicitação julgada procedente pelo TRE e pelo TSE –, o partido atendeu prontamente aos pedidos”, completou, apontando que já há jurisprudência para contestar uma possível ação por infidelidade partidária.

Raquel critica Alepe

Em vídeo postado na internet, a governadora Raquel Lyra condenou a movimentação da oposição na Alepe. Assim como fez no Ouvir para Mudar em Salgueiro, na última quinta-feira (14), ela subiu em uma cadeira durante evento Carpina e disparou contra a manobra.

“A casa da Assembleia Legislativa é do povo pernambucano. Não venham fazer manobras que não dignificam a estatura da nossa gente. Poder Legislativo é para bem legislar e aprovar os projetos que são importantes para nossa população. Salve Joaquim Nabuco. A democracia exige que a população esteja à altura daqueles que nos representam e que aqueles que nos representam estejam à altura das lutas democráticas do povo pernambucano. É nisso que eu acredito e é por isso que eu trabalho todo dia, diante de adversidades. Porque sei que eu não tô sozinha. Muito obrigado a todos vocês”, discursou a governadora.

Integrante governista no colegiado, o deputado Antônio Moraes engrossou o discurso crítico à manobra da oposição. “Sou deputado estadual há 28 anos e nunca assisti a um governador ser tão perseguido pela oposição como estão fazendo aqui em Pernambuco. Todos os dias é uma nova mentira, para não reconhecer o mérito de quem tem feito muito por Pernambuco. E tudo isso é movido pelo medo. Eles não querem que a governadora trabalhe, não querem autorizar empréstimos para que o governo faça as obras de infraestrutura que Pernambuco precisa”, afirmou Antônio Moraes.

Governistas podem ir à Justiça

O debate sobre a CPI deve ser travado também na Justiça. A líder do Governo na Alepe, Socorro Pimentel (União) e a deputada e procuradora Débora Almeida (PSDB) destacaram que é possível que seja uma movida uma ação na Justiça comum. “Há pessoas envolvidas que não são do Poder. Por isso, não é uma questão interna. Cabe uma ação na Justiça”.

Líder do Governo, Socorro Pimentel admitiu buscar uma solução fora do Poder. A gente precisa avançar através da Justiça” Foto: Roberto Soares/Alepe

Socorro Pimentel, que há meses vem denunciando que o debate de 2026 está contaminando a Alepe, disse que o episódio tem “a digital do PSB”, que abriu mão de três deputados para conquistar a maioria da CPI.

“São manobras políticas, de fato, mas manobras que indicam e que apontam que por trás dessa CPI é o poder pelo poder. Por trás dessa CPI está cravado, está digital do PSB e todo o projeto que foi antecipado eleitoralmente. Como eu falei várias vezes, a gente tem uma antecipação eleitoral clara e, agora, nítida de vez”, avaliou Socorro, acrescentando que “tem que buscar uma alternativa e tem que buscar algo fora desse Poder”. “A gente já viu que dentro do Poder (Legislativo) a gente não vai conseguir avançar em nada. Então a gente precisa avançar através da justiça, sim, mas isso é uma uma pauta que a gente ainda vai conversar”, finalizou Socorro.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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