Márcio Didier
Nos últimos dias, uma série de acontecimentos tem assustado pela passividade que são recebidas pela sociedade, normalizando atitudes e ações que deveriam causar indignação e cobrança por uma solução. A impressão que se tem é que estamos vivendo o reverso da civilidade, um retorno a tempos pouco abonadores da conduta humana.
No fim da semana passada, um homem matou dois policiais. Em seguida, não só o atirador foi morto, mas toda a sua família. Nem a Lei de Talião, de 1770 a.C., que consistia na rigorosa reciprocidade do crime e da pena, é tão cruel quanto essa punição. Houve revolta com a morte dos policiais, mas a indignação à chacina não foi na mesma proporção.
No domingo, durante uma briga de maloqueiros em Boa Viagem, um carro da PM foi jogado em cima dos valentões. A OAB-PE foi às redes sociais condenar a forma da abordagem e recebeu um mundo de comentários críticos ao posicionamento, afirmando que teria sido correta a atitude dos policiais. Não é fácil lidar com multidões, principalmente com quem vai para os eventos com a única intenção de brigar. Mas há padrões a serem seguidos na abordagem, que certamente não é uma versão de strike humano.
Nos últimos dias, começaram a circular na internet imagem de alunos do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro, em São Paulo, baixando os calções e se masturbando durante um jogo de vôlei feminino. Não há como qualificar uma imbecilidade desse calibre. Foram expulsos da universidade, mas mostra o ponto em que chegamos como sociedade.
Por fim, nesta terça-feira (19), a Comissão de Previdência e Família da Câmara dos Deputados volta a debater o projeto que proíbe o reconhecimento de casamentos homoafetivos. O relator da matéria é o deputado federal pernambucano Pastor Eurico, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Nada mais sem propósito do que esse debate. Parece que não há nada mais urgente no Brasil do que o casamento entre dois homens ou duas mulheres. Isso até explica um pouco o abismo em que nos metemos.
A assim vai vivendo o Brasil nos últimos anos, de uma indignação seletiva aqui ou ali. O gigante que acordou nas manifestações em 2013, voltou a dormir em sono profundo. Só a alguns poucos e barulhentos a insônia insiste em incomodar. Para azar do Brasil.
2 respostas
Muito bom !!!
Muito obrigado, Ângela