O pai apaixonado e a menina solar. Maria é amor

Maria Eduarda1

A batida ritmada e sem pressa, quase despretensiosa, do relógio na parede contrastava com a ansiedade naquela sala parto fria. Por quatro horas a obstetra Dra. Sílvia Carvalho tentava, sem sucesso, trazê-la ao mundo. No momento em que ela anunciou que faria a última tentativa de parto normal, a caixa de som da sala entoou as primeiras notas de Linda Juventude, do 14 Bis. A música trazia lembranças. Era sucesso no Brasil quando sua tia Lúcia Maria foi embora, em 1983. Instantaneamente meus olhos se encheram d’água. Senti que não estava só ali. No momento seguinte, a Dra. Silvia anunciou: “Vai nascer”. 

O relógio marcava 14h23. Chegava ao fim a mais longa espera de minha vida. À 1h da manhã, sua mãe, iraneide, havia dado o sinal que você estava chegando. A médica pediu para ir para o hospital quando as contrações ocorressem a cada cinco minutos.  O dia anterior tinha sido de muito trabalho. Pedi a Iraneide que me acordasse quando chegasse o momento de ir para o hospital. Estava suave. Queria estar descansado para te receber. E assim, dormir por três horas.

No frenético momento seguinte ao nascimento, o caos organizado da equipe médica tomou conta da sala. Deve ser terrível trocar o aconchego agradável do ventre por uma sala fria, barulhenta, com pessoas a colocando de cabeça para baixo, aspirando o seu nariz… Não havia ambiente mais inóspito. Nada era agradável. 

“Maria”, falei baixinho. Instantaneamente o choro forte cessou. As longas horas de conversa com a barriga de Iraneide criou um elo mais forte do que o desconforto. Enfim, conheci Maria. Enfim, ela encontrou a voz que tanto ouviu na barriga da mãe. Começava ali, os melhores anos do resto da minha vida.

Maria Eduarda sempre foi uma pessoa decidida Certa vez, aos três anos, participou de uma matéria da TV Jornal sobre a idade correta para não usar mais a fralda. Na reportagem, não teve dúvida, tirou a fralda, sentou no vaso sanitário e fez o número 1. Nunca mais voltou a usá-la. O mesmo aconteceu com a chupeta. Ou quando, já no segundo ano do Ensino Médio, decidiu trocar a Medicina, escolha que agradaria apenas a mim, pela advocacia. Quer e vai seguir a carreira diplomática. Não tenho dúvida de que será uma excelente embaixadora.

Maria e suas muitas lições

Mas nestes 18 anos, Maria me ensinou muito mais do que a ensinei. Há um hiato temporal gigante entre nós, de 37 anos. Já depois dos 50 anos, tive que rever conceitos e concordar forçosamente que existe música além do Deep Purple, Rush, Paralamas do Sucesso ou Beatles. Aprendi que Taylor Swift é a maior. Uma máquina de sucessos e carisma. Pude comprovar isso em novembro de 2023, quando acompanhei Maria no show da cantora americana no Engenhão, no Rio de Janeiro. Logo eu, que achava ridículo quem viajava para ver o show de um artista.

Mas talvez a maior das lições, Maria tenha me dado numa noite de segunda-feira de 2014. Três semanas antes, havia sido demitido do Jornal do Commercio após 24 anos de uma dedicação exclusiva, que começava pela manhã e acabava perto da meia-noite 

Preparei um jantar especial e sentamos à mesa da sala para comer. No meio do jantar, ela, à época com sete anos, parou, olhou para mim e disparou: “Papai, desde que o senhor foi demitido meu dias têm sido mais felizes”. Aquilo foi pior do que um soco na cara. De forma simples, Maria mostrou que estava tudo errado. Desde então, não aceitei mais trabalhar à noite e pude me dedicar mais a ela. 

Na vida a gente tem planos, sonhos e eu sonhava com uma filha inteligente, sagaz e parceira. Ganhei Maria, que faz com que todos esses predicados pareçam tolos. 

Maria é solar. É luz na vida de quem a cerca. É a voz coerente na insensatez de um pai impaciente. É a parceira perfeita na curiosidade sobre os assuntos mais banais. 

Maria, em seus 18 anos, me ensinou uma forma completamente nova de amar, que eu nunca havia experimentado. Um amor forte, mas despretensioso, colaborativo. Sem amarras ou cobranças. Apenas o maior amor do mundo, que nunca cessa e que cresce a cada dia, a cada vez que ela me chama de papi.

Te amo, filha. Muito Obrigado por tudo.

Feliz 18 anos!

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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