Assim como na vida, o timing na política é essencial. Saber o tempo certo de tomar as decisões pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de um projeto. A passagem da presidente nacional do PT pelo Recife, nesta semana, mostra que a legenda administrou mal o tempo no Recife e desmantelou de certa forma a postulação em Olinda.
Em 2012, o PT comandava o Recife havia 12 anos. Após dois mandatos de João Paulo, a gestão do João da Costa foi atribulada. A briga com seu antecessor e padrinho João Paulo marcou o início de uma série de complicações durante os quatro anos. O gestor teve problemas de saúde, com um transplante de rim, problemas na parte política e, enfim, enfrentou uma prévia fraticida com o então deputado Maurício Rands para ver quem seria o candidato da legenda nas eleições.
Esse processo de prévias foi tumultuado do início ao fim. As discussões que deveriam ser internas, podiam ser acompanhadas pelos jornais. No final, João da Costa ganhou, mas não conseguiu levar a indicação. Derrotado, Maurício Rands não só deixou o PT como renunciou ao mandato. Já perto das convenções, num timing imperfeito, lança mão de uma chapa com os dois principais nomes da sigla no município, com Humberto Costa na cabeça de chapa e João Paulo na vice.
Foi tarde demais. O PSB viu na indefinição do PT um vácuo de representação e apresentou um nome para a disputa. A chapa petista foi engolida pela estrutura montada pelos socialistas e pela força e popularidade do então governador Eduardo Campos. E Geraldo Julio foi eleito no primeiro turno. Ao PT restou amargar a terceira posição na disputa, com apenas 17,43% dos votos.
Desde setembro passado, o nome do então assessor especial do Ministério das Relações Institucionais e ex-vereador Mozart Sales vinha sendo cotado para a vice do prefeito e candidato à reeleição João Campos. O deputado federal Carlos Veras entrou na disputa pela vaga. Uma pendenga que se arrastou por meses.
Nesse meio tempo, o prefeito João Campos, de olho no timing político, teve espaço para filiar o seu nome preferido para a vaga – o ex-chefe de gabinete Victor Marques – ao PCdoB, um partido que integra a Federação formada pelo PT/PCdoB/PV. Também pôde mexer com o tabuleiro em Olinda, colocando o nome da deputada por duas vezes mais votada no município, Gleide Ângelo, para a circular como pré-candidata à Prefeitura de Olinda, uma cidade ambicionada pelo PCdoB.
No timing eleitoral
De olho no timing eleitoral, o PSB fez um gesto e retirou o nome de Gleide da disputa, abrindo espaço para que a Federação ocupasse a cabeça de chapa no município. A essa altura a ex-prefeita e nome do PCdoB para a eleição Luciana Santos já havia decidido permanecer no Ministério da Ciência e Tecnologia e o também ex-prefeito Renildo Calheiros não encontrava respaldo nos números da pesquisa para entrar no páreo.
Restou ao PT, que já ocupa a cabeça de chapa no segundo maior colégio eleitoral do Estado, com Elias Gomes em Jaboatão, indicar o nome para concorrer no município com o terceiro maior número de eleitores de Pernambuco. Com isso, estava pronto o discurso. O PT ficaria com a cabeça de chapa de dois dos três principais municípios em número de eleitores do Estado, deixando João Campos livre para indicar o seu nome preferido, que, inclusive, está num partido da Federação.
Em sua entrevista coletiva, a presidente Gleisi Hoffmann afirmou que o partido estava indicando Mozart Sales para a chapa. No entanto, era importante não perder espaço no palanque de 2026. A firmeza meio titubeante da líder petista mostra que o timing imperfeito do partido entrou em ação mais uma vez. Poucoas pessoas acreditam que a indicação de Mozart Sales para a vice vá vingar. Na política nada é definitivo. No amplo diálogo, o PT pode ficar com a vice de João Campos. Mas se isso acontecer, a essa altura do campeonato, será por um gesto do PSB, que ficará guardado para ser utilizado em reciprocidade no momento certo.
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