A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), inaugurou o momento mais crítico para o bolsonarismo desde 2018. O discurso de injustiça, que poderia reaglutinar parte da militância, perdeu consistência quando circularam imagens da tornozeleira eletrônica danificada e o próprio Bolsonaro admitiu ter usado uma máquina de solda para tentar violar o equipamento. O episódio dificulta qualquer narrativa que não sugira tentativa de fuga, reduzindo a capacidade de mobilização espontânea do grupo.
A perda de coesão é reforçada por outros acontecimentos recentes. O principal deles foi a fuga do deputado federal Alexandre Ramagem, que deixou o país rumo aos Estados Unidos, descumprindo decisão do STF que o impedia de viajar ao exterior após a condenação pelo 8 de janeiro. Há, também, a questão do também deputado federal Eduardo Bolsonaro, que buscou, nos Estados Unidos, a adoção de sanções comerciais contra o Brasil. As tarifas chegaram a ser anunciadas, mas foram retiradas dias depois, esvaziando o argumento político que ele tentava sustentar. Outro episódio foi a fuga da deputada federal Carla Zambelli, atualmente presa na Itália, o que adiciona mais um elemento de instabilidade à base bolsonarista.
Sem Bolsonaro, a disputa na direita
A saída de cena de Bolsonaro evidencia a ausência de uma liderança capaz de unificar a direita. O ex-presidente funcionava como o eixo estruturante do movimento, e sua prisão acelera a disputa entre figuras que buscam ocupar esse espaço. A tentativa do senador Flávio Bolsonaro de conduzir a militância perdeu força após a convocação da vigília em Brasília, que precipitou a prisão do pai. Governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Ratinho Junior (PR) e Romeu Zema (MG) surgem como alternativas, mas nenhum alcança a condição de liderança incontestável.
O desafio do bolsonarismo é reconstruir sua capacidade de articulação sem depender exclusivamente de Bolsonaro, atraindo o eleitorado de direita e preservando seu núcleo mais fiel. Isso implica redefinir prioridades, reorganizar o discurso e enfrentar a fragmentação interna. A dificuldade em estabelecer um novo eixo de liderança mantém o movimento em um estado prolongado de incerteza política.
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