Encontro de Lula e Trump esvazia o discurso bolsonarista

O encontro entre Lula e Trump encerra nova etapa da crise comercial, fortalece o presidente brasileiro e enfraquece o discurso do bolsonarismo Foto: Ricardo Stuckert/PR

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encerra mais uma etapa do imbróglio entre os dois países, muito embora outras etapas estão por vir. A disputa comercial, com a aplicação de uma sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros, ganhou contornos de disputa eleitoral no momento em que o deputado Eduardo Bolsonaro condicionou a retirada das sanções contra o Brasil à anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O encontro entre os dois líderes, da forma como foi, amistosa, esvazia essa narrativa e, certamente, renderá melhora na avaliação do petista.

Antes do início do confronto comercial, o presidente Lula estava nas cordas, com a popularidade baixa e dificuldades políticas de toda a ordem. O movimento do deputado Eduardo Bolsonaro acabou permitindo que o adversário respirasse e retomasse a narrativa nacionalista, antes monopolizada pelo bolsonarismo. Lula, com gestos calculados e um discurso centrado na defesa do Brasil, conseguiu se apoderar do símbolo do amor à pátria, que marcou a retórica da direita desde a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018.

Neste confronto comercial, a diplomacia brasileira teve papel crucial nesse reposicionamento. Trabalhou de forma discreta, mas eficaz, para diminuir a fervura do acirramento político e evitar que a disputa comercial contaminasse as relações bilaterais. O Itamaraty reconstruiu pontes e reposicionou o País como interlocutor confiável, sem abrir mão de seus interesses econômicos.

O episódio também revelou o uso instrumental que Donald Trump fez da figura de Jair Bolsonaro. Ao explorar o vínculo político entre ambos, o norte-americano tentou alcançar ganhos comerciais imediatos. No entanto, as turbulências internas nos Estados Unidos — alta de juros, aumento de preços e protestos — desviaram o foco do governo Trump e fragilizaram sua posição nas negociações.

A imagem de Lula

É natural que o bolsonarismo tente reivindicar algum mérito pelo encontro de Trump com Lula, transformando-o em um ativo simbólico próprio. No entanto, o resultado prático da reunião é o fortalecimento da imagem do presidente brasileiro. A imagem dos dois líderes, marcada por cordialidade e pragmatismo e amplamente repercutida, inclusive na imprensa internacional, consolida Lula como uma figura capaz de dialogar, negociar e apaziguar tensões em escala global. Essa nova percepção deve, na mesma medida que esvazia a narrativa bolsonarista, deve ampliar ainda mais a recuperação de sua popularidade, em um cenário em que o discurso de moderação e soberania volta a conquistar espaço.

Foto: Ricardo Stuckert / PR

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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