Todo debate político, dentro do Parlamento, é sadio para a democracia. É importante que as partes coloquem as suas posições para que se chegue a um consenso. Mas a escalada de embates na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) mostra que, com a proximidade das eleições de 2026, o clima político está escalando e o acirramento ganhando novas camadas. Um exemplo ocorreu nesta segunda-feira (20), quando o presidente da Casa, deputado Álvaro Porto, subiu à tribuna para defender a Alepe das críticas da governadora Raquel Lyra (PSD). Em resposta, a líder do Governo, deputada Socorro Pimentel (UB), cobrou “imparcialidade” do comando da Assembleia.
O embate na Alepe expôs não apenas a divisão política entre Executivo e Legislativo, mas também o nível de antecipação da disputa entre a pré-candidata à reeleição Raquel Lyra e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), potencial adversário na corrida pelo Governo do Estado. Apesar de Porto ter saído em defesa da Casa, o tom foi de oposição, que ele nunca negou pertencer. E a fala de Socorro deu o tom do que deve ser um longo e intenso confronto político até 2026.
Durante o discurso, Álvaro Porto afirmou que “a narrativa de que os parlamentares estavam atrasando as obras por causa do tempo de tramitação do empréstimo caiu por terra”. “O dinheiro que ela destinou para o Arco e para a duplicação (da BR-232) não foi do empréstimo autorizado este ano. oO Governo sempre teve o dinheiro para fazer as obras e não fez por incompetência. Este Parlamento não tem nenhuma responsabilidade nisso”.
O presidente também classificou como “total falta de respeito com os membros do Poder Legislativo” a declaração da governadora de que havia “gente trabalhando contra Pernambuco”. Em tom mais duro, afirmou: “Os números não mentem: a governadora possui recursos de sobra para avançar com as obras estruturadoras que Pernambuco precisa”. E completou: “É evidente que a Governadora tentou enganar a população. Tentou! Mas não conseguiu e não conseguirá!”
A líder do Governo, Socorro Pimentel, reagiu imediatamente. Em tom respeitoso, iniciou sua fala dizendo ter “o maior apreço e até admiração” pelo presidente, mas ponderou que esperava dele “imparcialidade” à frente do Legislativo.
Pimentel lembrou que o empréstimo aprovado este ano enfrentou um trâmite de quase seis meses. “Nós tivemos dificuldade sim na aprovação de empréstimo de quase 174 dias. Acho que foi a primeira vez que o empréstimo demorou tanto para esse dinheiro transitar na Casa”, afirmou.
A deputada também rebateu as críticas às obras do Governo. “O Arco Metropolitano é uma promessa do primeiro governo do PSB que até hoje não foi concretizado e é Raquel Lyra que vai entregar. Não existe da parte do Governo uma terceirização da responsabilidade. O que de fato existe é um desejo de paralisar o trabalho da atual gestão”, concluiu.
Clima de campanha precoce na Alepe
O confronto entre Porto e Pimentel, ainda que institucionalmente localizado, reflete o acirramento da corrida eleitoral de 2026. A Assembleia tornou-se palco de uma disputa simbólica que extrapola os limites do debate legislativo. A defesa enfática do papel da Alepe por parte do presidente e a reação do bloco governista revelam que o ambiente político pernambucano entrou em modo de pré-campanha.
É natural que as diferenças políticas se manifestem em um Parlamento. No entanto, é preciso cuidado para que o debate democrático não descambe para ataques pessoais ou institucionais.
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