No início da semana, de passagem pelo Recife, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota, foi evasivo sobre o debate da anistia para os envolvidos na trama golpista de 8 de janeiro. Disse que a pauta é definida semanalmente pela presidência e os líderes, mas deixou aberta a questão da anistia. “Sabemos que o julgamento, ele traz algumas implicações políticas, é natural pela abrangência política que o caso tem. Mas vamos procurar conduzir a Câmara com muita serenidade e equilíbrio”.
Esse debate estava sendo travado na surdina, por não ser uma pauta da sociedade e pelo potencial de provocar um novo confronto entre Poderes. Em vez de avançar na votação de propostas com impacto direto no dia a dia da população, como a correção da tabela do Imposto de Renda para isentar quem ganha até R$ 5 mil, deputados e senadores e até o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, concentram esforços em articular a anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Um debate enviesado, que tumultua o país num momento em que é preciso serenidade.
Essa movimentação desconectada da realidade evidencia um Legislativo preocupado em blindar lideranças políticas e representa um risco real Anispara a democracia. Porque não se trata apenas de uma inversão de prioridades: é a escolha deliberada por um projeto de autoproteção política. Expõe como parte da classe política está mais comprometida com a sobrevivência de aliados do que com a gestão pública ou com a resposta às demandas reais da população.
Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados
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