O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, visitou nesta sexta-feira (15) unidades de saúde do Recife para acompanhar a execução da estratégia nacional de prevenção e eliminação do câncer do colo do útero. A capital pernambucana é a primeira do país a implantar o rastreio organizado com exame molecular de DNA-HPV no Sistema Único de Saúde (SUS), substituindo gradualmente o teste citopatológico (Papanicolau).
A agenda começou na Unidade de Saúde da Família (USF+) Fernanda Wanderley, no bairro da Linha do Tiro, primeira do Brasil a receber o novo modelo de detecção. Em seguida, Padilha esteve no Hospital da Mulher do Recife (HMR), referência no seguimento de casos suspeitos e confirmados da doença.
Segundo o prefeito do Recife, João Campos, a experiência local foi fundamental para o projeto nacional.
“Esta ação começou no nosso estado e na nossa cidade. Dois distritos sanitários estão fazendo de forma experimental, e agora tivemos a oportunidade, com o ministro Padilha, de poder escalar para todo o Brasil. Na prática, vamos ganhar mais agilidade, precisão no diagnóstico e o cuidado com algo que pode ser evitado, que é o câncer do colo do útero. Identificando de forma precoce, é possível até evitar mortes. Isso é muito importante e a gente fica feliz de ter sido a referência para, a partir daqui, essa ação ganhar o Brasil inteiro.”
Contexto da doença e inovação no diagnóstico no Recife
O câncer do colo do útero é o terceiro mais frequente entre mulheres no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, com incidência estimada de 15,38 casos por 100 mil mulheres ao ano entre 2023 e 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em Pernambuco, a taxa projetada é de 15,18 casos, e no Recife, 18,02 casos por 100 mil mulheres.
O novo exame molecular de DNA-HPV, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerado mais eficaz para detecção precoce do vírus HPV, associado ao desenvolvimento do câncer do colo do útero. A iniciativa, realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), reorganiza a linha de cuidado, incluindo rastreio para mulheres e pessoas com útero de 25 a 64 anos, diagnóstico rápido, tratamento e incentivo à vacinação.
Resultados no Recife e metas
O rastreio organizado começou em 2022 em oito USF dos Distritos Sanitários II e VII, beneficiando 1.535 mulheres. Em 2024, foi ampliado para 16 unidades, com mais de 3.100 atendimentos até julho de 2025. Das amostras coletadas, 131 foram positivas para HPV tipos 16 e 18, considerados de maior risco para o câncer, e 109 casos já receberam acompanhamento completo.
Com cobertura de Estratégia Saúde da Família em cerca de 80% da cidade, a meta é rastrear 70% da população-alvo em até cinco anos, avançando 20% ao ano.
Vacinação contra HPV
A capital também registra crescimento na cobertura vacinal contra o HPV. Entre meninas, a taxa subiu de 75,42% em 2022 para 86,61% em 2024, chegando a 81,82% até julho de 2025. Entre meninos, o aumento foi de 39,79% para 70,59% no mesmo período, com 68,74% registrados até julho de 2025.
Ampliação de serviços no Hospital da Mulher
Durante a visita, o ministro anunciou investimento de cerca de R$ 40 milhões para o HMR, possibilitando mais de 5 mil cirurgias e 180 tipos de procedimentos por ano, totalizando 400 mil atendimentos adicionais. Entre eles estão punção por agulha fina (PAAF), biópsia por agulha grossa (core biopsy), mamotomia, estereotaxia, agulhamento para mapeamento de lesões, mastectomia, maternidade dia para gestantes de alto risco, vasectomia e laparoscopia.
“A saúde da mulher é prioridade absoluta. Montamos uma forma para repassar recursos entre estado e município nos hospitais para fazer mais cirurgias. Estamos muito felizes em repassar esse recurso para a prefeitura do Recife, cerca de R$ 40 milhões, para fazer mais de 5 mil cirurgias, mais de 180 procedimentos como um todo. Hoje, mais cedo, fizemos um anúncio da tecnologia que substitui o Papanicolau, está inventado e agora está no SUS aqui, no Recife, e iremos implementar até o final do ano em todos os estados do Brasil”, afirmou Padilha.
Inclusão de cirurgia de transgenitalização
O HMR também passará a oferecer cirurgia de transgenitalização, atualmente realizada apenas pelo Hospital das Clínicas em Pernambuco.
“O Hospital da Mulher, que já faz as terapias hormonais com acompanhamento psicossocial, poderá avançar no cuidado, bem-estar e dignidade para as pessoas trans”, explicou a diretora da unidade, Isabela Coutinho.