O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, participou, nesta quarta-feira (13), da inauguração do Espaço Multissensorial do Aeroporto Internacional de Brasília (DF), criado para acolher passageiros neurodivergentes, em especial pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). O ambiente foi projetado para reduzir estímulos sensoriais e proporcionar conforto antes do embarque ou durante conexões. O epaço é parte de programas de inclusão apoiados pelo Ministério dos Direitos Humanos e pela concessionária Inframerica.
Segundo Costa Filho, a iniciativa combina política pública com impacto humano. “Essas salas multissensoriais representam mais do que uma política pública permanente; são um gesto humano e pedagógico, que toca a alma e o coração. Nosso sonho é que, em dois ou três anos, todos os principais aeroportos do Brasil contem com esses espaços, garantindo apoio e atenção especial a crianças e pessoas autistas, bem como às suas mães e pais”, afirmou.
A secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Ana Paula Feminella, destacou que o espaço representa avanços no direito à participação social. “Lugar de pessoa com deficiência é em todo lugar. Já ficou no passado o tempo em que precisávamos ficar isolados em casa ou em que famílias sentiam vergonha de seus filhos. Hoje, somos reconhecidos como legítimos sujeitos de direitos e participantes da vida pública.”
Estrutura e funcionamento do espaço
Localizado na sala de embarque doméstico, entre os portões 21 e 22, o espaço conta com iluminação suave, elementos táteis, recursos interativos e área que simula o interior de uma aeronave. O objetivo é familiarizar viajantes com hipersensibilidade sensorial à experiência de voo, reduzindo ansiedade e desconforto. O projeto integra o programa internacional HD Sunflower, que usa o cordão de girassol como símbolo de deficiências não visíveis, e o programa AUTItude, que oferece gratuitamente kits com protetor auricular, gibi e o próprio cordão.
O espaço funciona 24 horas por dia, é gratuito, acessível a todas as idades e comporta até sete pessoas simultaneamente. Para acesso, basta acionar o interfone na porta para liberação remota. Equipes do aeroporto receberam treinamento específico para atendimento empático e personalizado. O cordão de girassol pode ser retirado gratuitamente nos balcões de informação, no piso de check-in e nas recepções das salas VIP, sem necessidade de laudo ou comprovação da condição.
O diretor comercial e de assuntos corporativos da Inframerica, Rogério Coimbra, afirmou que a proposta é “garantir que todos os passageiros, independentemente de suas condições, possam vivenciar a jornada aérea com dignidade, tranquilidade e autonomia”.
A usuária Mariani Braga, mãe de Sophia, de 5 anos, autista nível 1 de suporte, relatou: “A nossa experiência no aeroporto geralmente é bem complicada. Tem muita gente, muito barulho, e ela fica agitada porque não consegue esperar no meio daquela multidão. Mas a gente adorou a sala multissensorial. É acolhedora, tranquila, longe da confusão do aeroporto. Para a gente, esse ambiente é tudo. É uma forma de sermos vistos, incluídos. A gente se sente abraçado e confortável de verdade”.
Outra mãe, Leandra Peixoto, que viaja com o filho Arthur, de 6 anos, também autista nível 1, defendeu a expansão do projeto. “O nosso desejo, como mãe, é que essas salas se tornem cada dia mais vivenciadas, não só dentro dos aeroportos, mas também nas estações de metrô e em locais que as crianças tanto desejam frequentar. Que essa pauta cresça cada vez mais, trazendo inclusão para essas crianças”.
Expansão pelo país das salas
Com a inauguração do espaço em Brasília, o Brasil já conta com nove salas multissensoriais: Congonhas (SP), Florianópolis (SC), Galeão (RJ), Natal (RN), Recife (PE), Santos Dumont (RJ), Vitória (ES), Campo Grande (MS) e agora Brasília (DF). Segundo dados do Ministério de Portos e Aeroportos, essas unidades atendem um público estimado de milhares de famílias por ano, considerando que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1% da população mundial está no espectro autista.
O secretário executivo do MPor, Tomé Franca, afirmou que a meta é ampliar o alcance da ação. “Nossa meta é que cada vez mais as infraestruturas aeroportuárias estejam preparadas para acolher todos da forma como cada um precisa, porque a aviação no Brasil é, de fato, para todos e para todas”.
Cartilha de orientação
Durante o evento, foi lançada a Cartilha Inclusão Dentro e Fora do Avião, escrita por Aline Campos e ilustrada por Luana Chinalia. O material apresenta, de forma lúdica, a história de duas crianças neurodivergentes e orienta famílias sobre direitos e recursos para tornar a viagem mais acessível. “Por questões sensoriais, muitas vezes é um desafio estar em ambientes com alta iluminação, barulho e movimento intenso. Nesta sala, poderemos nos autorregular para seguir uma viagem tranquila e chegar ao nosso destino”, afirmou Aline.
A cartilha está disponível para download no site do MPor e também nas salas multissensoriais já em funcionamento.
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