Patrícia Raposo
Do Movimento Econômico
A permanência de Danilo Cabral na superintendência da Sudene está por um fio. E sua saída representará uma grande derroa política para Pernambuco diante das pressões que partem do Ceará. Indicado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), o ex-deputado federal tem enfrentado forte pressão para deixar o cargo por parte do governador cearense, Elmano de Freitas (PT), e da concessionária da ferrovia Transnordestina (TLSA), que executa as obras no trecho cearense.
A justificativa para a crise federativa apontada por alguns blogs locais seria a defesa que Danilo Cabral vem fazendo da execução do ramal da Ferrovia Transnordestina em Pernambuco. A Sudene é a patrocinadora do evento Conexões Transnordestina, promovido pelo portal Movimento Econômico e que teve início em Salgueiro, mês passado. No entanto, o fator de pressão é outro: a suposta lentidão na liberação de recursos para a continuidade das obras da ferrovia no trecho cearense.
O tensionamento político cresceu com a proximidade das eleições de 2026. O governador Elmano culpou a Sudene publicamente durante visita do presidente Lula a Missão Velha (CE), no dia 18 de julho, por atraso nos repasses para a obra da TLSA em solo cearense.
No entanto, desde que Lula assumiu o governo, uma articulação envolvendo Sudene, TCU, Casa Civil e Ministério da Integração Nacional viabilizou a liberação de R$ 3,6 bilhões para a ferrovia, com recursos do FNDE, divididos em parcelas anuais: R$ 1 bilhão por ano, mais uma parcela R$ 600 milhões ao final do período. Na época, esse anúncio causou inclusive inquietação entre os pernambucanos, que ainda esperam pelo trecho Salgueiro-Suape.
Portanto, a narrativa construída de que a Sudene estaria dificultando a liberação não é verdade. As liberações de 2024 já foram executadas – foram R$ 400 milhões em janeiro e outros R$ 600 milhões em junho, totalizando o R$ 1 bilhão previsto para aquele ano. Já os repasses de 2025, porém, aguardam a comprovação de execução da obra.

E tem outro detalhe: a liberação de R$ 800 milhões que faltavam do contrato anterior só foi possível graças a uma grande articulação entre a Sudene, a Casa Civil, o TCU e o Ministério da Integração, justamente porque não havia comprovação de execução das obras.
Debêntures da ferrovia
Como se não bastasse, a TLSA pleiteia ainda a liberação imediata de outros R$ 800 milhões em debêntures do FDNE. A empresa tem feito forte pressão por esses recursos sobre o governador cearense e sobre a Sudene. O atraso na liberação dessa verba – que é referente a participação societária da Sudene na obra -, não ocorreu porque o Ministério da Integração Regional e o Tesouro Nacional não tinham um modelo definido de como operar contabilmente essa compra de ações, e o processo ficou “embolado”, segundo uma fonte do Ministério.
A empresa faz pressão sobre Elmano de Freitas alegando que, caso a verba não seja liberada, interromperá as atividades nos canteiros de obras — onde estão empregados cerca de 8 mil trabalhadores. É um desgaste que governador nenhum quer enfrentar às vésperas das eleições.
Há também um outro componente político: o desejo antigo de setores do Ceará de assumir o comando da Sudene e, com isso, ter influência direta sobre a definição das diretrizes do FNE — cujo orçamento em 2024 soma R$ 47,3 bilhões. Desde a nomeação do ex-governador pernambucano Paulo Câmara (PSB-PE) para a presidência do Banco do Nordeste, historicamente comandado por cearenses, o incômodo político aumentou. Colocar um cearense na superintendência da Sudene passou a ser visto como uma compensação estratégica.
Empresários mobilizados
A notícia de que o Ceará está pressionado para tirar Danilo Cabral da Sudene mobilizou os empresários locais. Halim Nagem, presidente do Grupo Atitude PE disseque seus associados estão reagindo e travando interlocuções com a esfera federal para conter o movimento contra Danilo. Os presidentes de FIEPE, Bruno Veloso, e do CREA-PE, Adriano Lucena, também confirmaram que atuam na mobilização em torno da defesa de Danilo, e assinaram, junto com o LIDE-PE e a CIEPE, nota de posicionamento em defesa do superintendente.
Se Danilo Cabral for afastado da Sudene será uma derrota política gigante para Pernambuco, independentemente de colorações partidárias. Num momento de retomada da ferrovia no estado, substituir um pernambucano por um cearense eleva o risco de que essa ferrovia realmente se torne uma lenda. Se o presidente Lula concordar com essa mudança estará tratando Sudene como o fez o ex-presidente Bolsonaro, que de tanto trocar os superintendentes não permitiu que a autarquia fizesse praticamente nada pelo Nordeste em quatro anos de gestão. Um retrocesso. Não tem outra palavra.
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