Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Casimiro de Abreu (Meus oito anos)


Márcio Didier

Não. Esse não é apenas um texto nostálgico. É uma crônica de amor. Fruto de uma paixão arrebatadora que tomou conta do coração de uma criança nos seus oito, nove anos por uma senhora que na próxima terça (12) completa 489 anos e que só faz crescer, linda, elegante, aconchegante, plena.

Éramos cinco amigos, unidos pela primeira série primária do Colégio de São Bento. O roteiro desenhado pelo destino para as nossas tardes era mais do que diversão entre crianças. Era uma aula de história, que encantava pela tranquilidade das ruas e a beleza dos casarios. Sem que nós percebêssemos, estávamos sendo gradativamente enfeitiçados por Olinda e sua Cidade Alta.

Morava na Sigismundo Gonçalves, 599, na entrada do sítio histórico. Tinha um quintal amplo, com espaço que hora era campo de futebol, hora quadra de tênis, hora quadra de vôlei.

Na Praça de São Pedro, diante da igreja, do outro lado da praça, a casa com piscina de Antonello.

Subindo a Prudente de Moraes, nos Quatro Cantos, à direita, pela Misericórdia, chegávamos à casa de Guga e o horizonte amplo de Olinda se enroscando com o Recife.

Pegando à esquerda nos Quatro Cantos, estávamos na casa de Mané Oião, e sua quadra de vôlei indoor, no porão, para os dias de chuva. Mais adiante, na Rua de São Bento, morava Valdo e a sua casa com um quintal imenso.  

A nossa infância parecia um roteiro daqueles guias turísticos que ficam na Praça do Carmo. Diariamente e brincando, visitávamos os principais pontos da cidade histórica. Cada dia na casa do outro e sempre pelas ladeiras de Olinda. Creio que tenhamos sido as crianças mais privilegiadas na infância. O nosso quintal era Olinda. Só isso.

Os anos passaram e cada um tomou o seu rumo. De vez em quando nos reencontramos. O que a nossa infância uniu, nada destrói.

Quanto a Olinda, apesar de maltratada pelo poder público, permanece com o seu charme inabalável. Mesmo sem conhecer, todas as pessoas têm o vírus do amor a essa cidade incubado no corpo. É infalível. Basta uma rápida ativação para se apaixonar e amar.

Olinda é suavidade na tormenta. O acalanto no desespero.  Lá o ódio definha e morre.

Olinda é amor!

Feliz aniversário, bela senhora

**Todos os sábados uma crônica

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5 respostas

  1. Eu, que sou filha de Olinda, tive o prazer de passar uma parte linda da minha história por suas ladeiras e ruas!! Vivência ainda mais enriquecida por amigos como você, Márcio, além do meu amado “Quarteto Fantástico” e da nossa turma tão querida de 1988!!!
    Ler suas palavras me levou à viagem por minhas memórias e por essa cidade que, apesar da negligência do poder público, continua linda e apaixonante!!

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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