Retorno da Alepe tem de tudo: defesa de diálogo, balanço gigante da governadora e conversa vazada

Uma cerimônia estranha, tensa. A sessão que marcou a  retomada dos trabalhos da Assembleia Legislativa em 2024, na manhã desta quinta-feira, foi marcada pela presença de 37 deputados, da governadora Raquel Lyra e sua vice, Priscila Krause, quase todos os secretários estaduais (faltaram três que estavam em rodízio de férias, explicavam todos os governistas a todo momento), muitos recados, e discursos sobre diálogo, imensa prestação de contas e, como gran finale, um áudio vazado, em que questionam o presidente da Alepe, Álvaro Porto, de qual estado a governadora estava falando. “Também queria saber”, devolveu, no áudio.  Vamos por partes:

A expectativa

  • Depois de ter confirmado presença na noite anterior, a governadora Raquel Lyra chegou ao prédio da Assembleia cerca de meia hora antes do início da sessão. Entre os deputados, a expectativa era sobre qual seria o tom do discurso da gestora. Aos poucos, os secretários de Estado foram chegando ao plenário e ocupando as cadeiras colocadas do lado esquerdo da Mesa Diretora. E foram chegando mais governistas, e o cerimonial corria para conseguir mais cadeiras de plástico brancas para acomodar os convidados. Nos corredores, uma interrogação gigante pairava na cabeça das pessoas. Ninguém entendia o que toda a gestão estava fazendo ali. Se era um gesto para valorizar o Legislativo, um armistício no confronto entre poderes, ou um escudo de proteção à governadora. Essas três opções foram as mais votadas pelos deputados.


O início

  • Comandando a sessão, Álvaro Porto convidou o vice-líder do Governo, Joãozinho Tenório, e a líder da Oposição, Dani Portela, para conduzir a governadora Raquel Lyra e a vice Priscila Krause ao plenário. O líder do governo, Izaías Régis, não estava presente, por estar se recuperando de uma cirurgia no olho. Em seu discurso Dani Portela lembrou que conversaram sobre o simbolismo de três mulheres fazerem parte da comitiva.

Os discursos

  • O período natalino já passou, mas o plenário um pastoril, dividido em dois grupos. A depender de quem discursava, um grupo aplaudia mais. Se era um deputado, os parlamentares eram mais efusivos. Quando foi a governadora, os secretários batiam mais fortes, e, por três vezes, acompanhando a vice Priscila Krause, que puxava as palmas.


Álvaro Porto

  • Em um discurso sóbrio, mas com alguns recados para a governadora, que o acompanhava da Mesa Diretora, em dois momentos das suas duas páginas de discurso, Álvaro Porto recorreu à palavra “diálogo”. Afirmou que vai continuar “trabalhando diariamente para preservar o ambiente de diálogo construído na Casa”. Já próximo do final, voltou a falar sobre a necessidade de diálogo.

“Por fim, é fundamental reiterar que esta Casa é território de diálogo e entendimento e segue mobilizada em favor de uma sociedade justa, igualitária e solidária. Além de legislar e fiscalizar, a Alepe continuará trabalhando para assegurar direitos e, acima de tudo, garantir conquistas à população pernambucana”, destacou Álvaro Porto, em sua fala.
  • Em seguida, falaram os líderes de bloco: Dani Portela pela Oposição, que chegou a dar um puxão de orelha na governadora, pedindo diálogo, e Joãozinho Tenório pelo Governo.



Raquel Lyra

  • Logo que chegou à Tribuna da Alepe, a governador abriu uma bandeira de Pernambuco e a estendeu, colocando dois copos para segurá-la à frente da tribuna. Após saudar os membros da mesa, os seus secretários e nominalmente os 37 deputados presentes, a governadora Raquel Lyra usou os seus 37 minutos e 48 segundos de discurso para fazer um amplo balanço sobre o seu primeiro ano de gestão. Citou os investimentos área por área e agradeceu à parceria com a Assembleia Legislativa. Segundo rigorosamente o script, não quis saber de polêmica. Não passou nem perto de falar sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade que ingressou há uma semana no Supremo Tribunal Federal contra a Alepe. Ela contesta a aprovação pela Casa do orçamento do deste ano, com a derrubada dos sete vetos da governadora à peça. Após a sessão, ela concedeu uma entrevista.

“Eu tive aqui na Assembleia Legislativa no dia de hoje para trazer a mensagem do governo de diálogo, de respeito à Casa da qual fiz parte por dois mandatos. E falar um pouco da prestação do contas do que fizemos e os novos desafios para 2024. Sobre a ação de inconstitucionalidade, a Procuradoria do estado entendeu que a matéria extrapolou a questão das constitucionais e, de maneira técnica, não política, diga-se, avaliou que era necessário o ingresso da ação”, afirmou a governadora Raquel Lyra, acrescentando que desde que foi eleita tem mantido diálogo permanente com os deputados.

Microfone ligado

  • Apesar de a tensão permear toda a sessão, com algumas reclamações ao pé de ouvido pelo tamanho dos discursos da líder de oposição, Dani Portela, e da governadora, a reunião chegou ao fim sem maiores atropelos, com direito até a um beijo do presidente Álvaro em Raquel Lyra, na chegada dela.

  • Após a governadora se despedir e deixar a mesa, assessores de Álvaro Porto foram conversar com o presidente. Eles só não sabiam que o microfone do presidente da Casa continuava ligado e o áudio do diálogo foi vazado na TV Assembleia. O repórter da Folha de S. Paulo José Matheus Santos não perdeu tempo e colocou o teor da conversa no X (antigo Twitter):

“Enquanto Raquel deixava o plenário, uma pessoa ao lado do presidente da Alepe ironizou o discurso dela: “deveria ter perguntado onde é esse estado”. “Eu também queria saber”, respondeu Álvaro”, publicou José Matheus.

  • Ao ler o texto, um integrante da Assembleia balançou a cabeça e disse baixinho: “Tanto trabalho para desatar o nó e esquecem de desligar o microfone”.

  • Certa vez uma conversa vazada derrubou um ministro da Fazenda (Rubens Ricupero – em setembro de 1994). E torcer para que essa entre na galeria apenas dessa sessão esquisita da Alepe.
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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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