Vereadora mais votada do Recife, em 2020. Deputada estadual em primeiro mandato, eleita em 2022. Espera para janeiro o segundo filho, Jorge, 21 anos depois do nascimento da filha Alice. E agora com uma missão do seu partido, o PSOL, de ser pré-candidata à Prefeitura do Recife. Dani Portela encara todos os desafios com a serenidade que enfrenta as lutas da vida. Advogada, historiadora, professora, negra e feminista, ela conquistou seu espaço num ambiente extremamente machista, que é a política. E é essa bagagem de vida e das lutas sociais que ela pretende trazer para o debate na disputa pelo comando da capital pernambucana. Nessa entrevista dada ao editor do marciodidier.com.br, nesta terça-feira (5), ela fala do Recife, da questão interna da federação com a Rede e a campanha no puerpério.
“Tem muitos problemas que eu consigo identificar. Tanto é que, apesar de o Recife ter se tornado um grande canteiro de obras, ainda traz índices alarmantes. A gente sabe que essas desigualdades (no Recife) têm classe social. Elas têm gênero. Elas têm raça e elas têm cor. Então essa desigualdade ela se perpetua em muitas periferias do Recife, que ainda sobrevivem numa cidade que não é tão Justa e tão igualitária como a gente vê muitas vezes nas propagandas”, avaliou Dani Portela, apontando o norte do debate que pretende fazer na disputa pela prefeitura da capital.
Federação
Mas antes de a campanha começar, a pré-candidata do PSOL tem alguns obstáculos a superar. O primeiro deles é o debate internado na federação composta pelo PSOL e a Rede, que tem o deputado Túlio Gadelha se colocando como pré-candidato. Dani acredita em uma saída amistosa para o impasse, com o colegiado referendando o seu nome. De forma serena, diz que seu partido detém 70% da federação, mas explica que não quer usar isso no debate.
“Federação é um casamento, né? Que tem que durar 4 anos. Estamos na base do governo Lula. A decisão foi tomada pelo PSOL, que representa 70% na Federação. Então, após a decisão ser tomada no PSOL, a gente vai levar o diálogo para Federação. Mas a gente não quer fazer esse diálogo. ‘Ah. Nós somos 70, vocês são 30’. A gente quer fazer uma construção com o partido tem figuras históricas, com uma pauta que é muito convergente. A gente precisa sair com um programa, né? Então assim o nome candidato da candidata ou candidato pela federação é o nome que vai apresentar um programa para a Cidade do Recife que dialogue com enfrentamento às desigualdades. Então o PSOL definiu que o nome é o meu, nós vamos levar esse nome para apresentar à federação. Espero que o nome seja acolhido”, destacou Dani.
Puerpério
O outra obstáculo é ser candidata no puerpério. Com o seu segundo filho, Jorge, previsto para vir ao mundo em janeiro, Dani terá que enfrentar a campanha com um bebê de colo, sendo a primeira candidata no Recife a enfrentar esse tipo de situação.
“Eu sou a única mulher candidata posta a disputar esse cargo e acho que na história eu não me lembro de ter outra candidata, que vai estar realmente disputando a eleição no puerpério, de fazer campanha com o menino no braço. Mas isso é um desafio de tantas mulheres, da maioria da população (brasileira)”, avaliou Dani Portela, que acrescentou que, ao estudar a legislação, descobriu que as pessoas que ocupam cargos eletivos não têm direito à licença-maternidade, ou seja, um desafio a mais para as mulheres na política.
Polarização
Sobre a disputa, a pré-candidata do PSOL acredita que a eleição do próximo ano a polarização ainda será um componente do debate político, e que terá que buscar uma forma de combater o discurso da direita e extrema-direita e enfrentar o prefeito João Campos, que milita no campo da esquerda.
“Eu ainda acredito que em 2024 nós, infelizmente, ainda teremos um resquício que ainda tá muito forte na sociedade da polarização entre a esquerda e a direita. Entre a extrema-esquerda, considerada que não é extrema, e a extrema-direita, fundamentalista, religiosa. Acho que isso foi muito posto nos quatro anos de governo Bolsonaro e essas raízes do bolsonarismo elas se arraigaram muito em todos os municípios. Então, acredito que o ano que vem essa polarização, ela vai estar muito latente. Acho que a gente vai ter uma eleição ainda muito polarizada com a direita e com o centro-direita, que se estabelece no estado a partir do Governo da governadora Raquel Lira, né? Que acabou abraçando ali o centro, a direita mais tradicional a extrema-direita. Nós temos um desafio aí que é fazer uma demarcação desse espaço, uma defesa do governo Lula, uma oposição a esse campo de direita em Pernambuco. Mas também de fazer uma oposição ao prefeito João Campos. Mas o importante pra gente é ouvir as pessoas”, colocou Dani Portela.