Governo precisa olhar para o futebol pernambucano urgentemente

MANOEL GUIMARÃES

O mau desempenho dos clubes de futebol de um estado não é culpa ou responsabilidade do trabalho de um governante. No entanto, para um Estado que sempre se vangloriou por ter três clubes predominantes e não sofrer com a invasão, outrora das parabólicas que beneficiaram Flamengo e Corinthians, e atualmente dos streamings com Real Madrid, Manchester City e outros clubes milionários, o quadro clama por atuação da máquina pública.

Agosto de 2023 nem encerrou, e dois clubes pernambucanos tradicionais só voltarão a jogar oficialmente no ano que vem. Com o agravante de que o Santa Cruz só terá calendário até abril. Em quê isso incidiria no colo de um governante, além de lamentações pela falta de representantes do estado nas principais divisões do futebol nacional?

É preciso voltar no tempo. Nos anos 1990, o então governador Miguel Arraes lançava o Todos com a Nota, programa estadual que estabelecia uma cultura junto ao consumidor para solicitar as notas fiscais das compras que realizava, trocando-as por ingressos para jogos de futebol. Um gol de placa que contribuiu para aumentar o público nos estádios, tanto para o Trio de Ferro da Capital quanto para os clubes do interior – esses talvez os mais beneficiados proporcionalmente com o incremento de verbas, já que o Estado repassava parte do valor do ingresso trocado às entidades esportivas.

A sucessão de governos trouxe a mudança de nome do programa para Futebol Solidário nos oito anos de Jarbas Vasconcelos, e retomou o nome na gestão de Eduardo Campos, mantendo o sucesso e os estádios cheios em boa parte da temporada. Todavia, o governo de Paulo Câmara iniciaria, ainda em 2015, uma fase de derrocada para o programa, reduzindo investimentos em publicidade e praticamente descartando a iniciativa. Clubes passaram a não receber mais o valor com o qual se acostumaram a contar e, assim, os investimentos no futebol local minguaram ano a ano.

Portanto, não é desprezível a conexão entre o iminente fim do Todos com a Nota e o reflexo gerado no desempenho dos clubes de Pernambuco. Mesmo o Sport, que colecionou longos períodos na Primeira Divisão nos últimos 40 anos, apresentou uma alternância entre rebaixamentos para a Segundona e subidas na última década. O Náutico vai para a quarta temporada em seis anos na Série C, enquanto o Santa Cruz colecionou rebaixamentos no período. Isso tudo sem entrarmos no mérito de jogos vexatórios.

O primeiro ano de Raquel Lyra no poder traz, desta forma, uma iminente responsabilidade de colaborar para reverter esse quadro. O futebol pernambucano perde espaço em meio à ascensão de equipes da Bahia e do Ceará, mais especialmente o Fortaleza, que disputou a Copa Libertadores da América nos últimos dois anos após excelentes campanhas no Brasileirão.

Repensar as políticas públicas alinhadas com a cúpula da Federação Pernambucana de Futebol pode até parecer uma tarefa árdua, mas muito mais importante do que certas vaidades, é recolocar o futebol pernambucano no seu merecido lugar de destaque. E esse retorno só será possível com uma política que estimule tanto os torcedores quanto os clubes pernambucanos, conforme enxergava, há mais de 30 anos, o visionário Miguel Arraes.

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SOBRE O EDITOR
Márcio Didier

Márcio Didier é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, com passagens pelo Jornal do Comércio, Blog da Folha e assessoria de comunicação

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